Em Março de 2013 a Revista Visão publicou um artigo interessante que, para quem não teve a oportunidade de ler, fazemos aqui uma breve síntese do mesmo.
O artigo vai apresentando o testemunho de várias crianças e jovens que através dos seus desenhos e frases relatam uma realidade tão impressionante quanto real. Um deles pertence a um jovem actualmente com 14 anos que conta a sua experiência familiar e o momento em que viu o seu pai agredir a mãe, provocando nesta um traumatismo craniano e uma série de lesões que a obrigaram a uma cirurgia e dores para o resto da sua vida. O pai foi condenado por violência doméstica com pena suspensa.
“O nosso pai dava-nos tudo o que lhe pedíamos, mas não nos ligava quase nada”, o que fez com este jovem deixasse de querer estar com o pai e interrompesse as visitas – este filho acaba por afirmar em entrevista que gostaria de “um pai como deve ser”, “mas como não posso mudar as pessoas, estou melhor assim…”
Segundo Marta Silva, coordenadora do núcleo de violência doméstica da CIG, 42% dos casos de violência doméstica em 2011 foram presenciados por menores. Segundo a experiência de Carlos Daniel, chefe do Núcleo de Lisboa do Projecto de Investigação de Apoio a Vítimas Específicas, as crianças chegam muito mais assustadas do que a mãe (vítima directa). O que não é de estranhar uma vez que o entendimento de uma criança sobre a realidade não é igual ao de um adulto.
Muitas destas mulheres chegam aos hospitais acompanhadas das suas crianças, pelo que é fundamental os vários organismos estarem sensibilizados para a procura imediata de apoio para estas famílias (escola, polícia, hospitais e outros serviços de saúde, bem como a sociedade em geral).
Todas as crianças que crescem numa casa onde a violência doméstica é uma realidade sofrem invariavemente com isso, pelo que são fornecidos alguns alertas que pode ter em atenção:
- Dar apoio a estas crianças passa sobretudo por escutá-las, dar-lhes tempo e um espaço de expressão – as crianças têm uma percepção do que está a acontecer e vão dar sinais de que algo não corre bem nas suas vidas;
- Fale com um profissional de saúde pediatra e/ou psicólogo – estas crianças e jovens ficam completamente perdidos, isolam-se, apresentam dificuldades de aprendizagem apresentam índices de depressão, choro compulsivo, baixa auto-estima, insegurança, medos, ansiedade e muitas vezes agressividade;
- Certifique-se de que estas crianças sabem que não têm culpa do que está a acontecer;
- Diga-lhes para se afastarem se estas agressões acontecerem à sua frente – em determinados casos é importante construir-se um plano de emergência, para que saibam como actuar perante determinados cenários;
Num projecto europeu sobre violência doméstica que está na origem do livro Witnessing Violence (Testemunhando a Violência), em Portugal foram inquiridos técnicos e crianças. Aquilo que mais foi observado em crianças vítimas indirectas de violência doméstica foi:
- 93,8% – falta de atenção e maus resultados escolares;
- 92,3% – aprendizagem de modelos de relação agressivos;
- 87,7% – distúrbios como dores de barriga e dificuldade em adormecer.
As crianças assumiram a tristeza (40,5%) e o medo (39,8%) como sentimentos dominantes nestas situações.
É muito importante estarmos atentos a esta realidade como forma de prevernirmos consequências graves na vida destas pessoas. Peça ajuda!