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Homens e mulheres: quem sofre do quê?

Autora: Rita Torres

As mulheres têm até 40% de maior probabilidade do que os homens de desenvolver problemas de saúde mental, de acordo com o estudo do psicólogo clínico Dr.Daniel Freeman, da Universidade de Oxford.

A constatação, com base na análise de estudos epidemiológicos do Reino Unido, EUA, Europa, Austrália e Nova Zelândia, tem consequências significativas para a saúde pública.

Os resultados são baseados na análise de 12 estudos epidemiológicos de grande escala realizados em todo o mundo desde a década de 1990, para o livro de Freeman “The Stressed Sex: Uncovering the Truth About Men, Women, and Mental Health, publicado pela Oxford University Press. A análise utilizou apenas estudos de grande escala, com amostras representativas da população em geral.

De acordo com o estudo de Freeman, as mulheres são aproximadamente 75% mais propensas a desenvolver perturbações depressivas do que os homens, e cerca de 60% mais propensas a relatar transtornos de ansiedade.

Os homens relatam duas vezes e meia mais do que as mulheres perturbações associadas ao abuso de substâncias. Deficit de atenção e hiperatividade e esquizofrenia não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os sexos em adultos.

De acordo com os resultados, as mulheres tendem a internalizar mais os seus problemas, com maior probabilidade de sofrerem de transtornos como depressão ou problemas de sono. Por seu lado, os homens externalizam mais, e assim também se explica a maior prevalência de dificuldades relacionadas com o controlo de impulsos e abuso de substâncias.


Este estudo realça a complexidade multifatorial que origina a diferença entre géneros, no que diz respeito à saúde mental.

Dos fatores individuais, o estudo aponta que as mulheres têm tendência a ver-se de maneira mais negativa, sendo que baixa autoestima é um fator de vulnerabilidade para problemas de saúde mental. As variáveis individuais são interdependentes de variáveis físicas e sociais. Por exemplo, é natural que as alterações físicas inerentes ao ciclo reprodutivo feminino, associadas aos padrões de beleza e múltiplos papéis atribuídos às mulheres, dificultem o desenvolvimento de uma autoestima saudável.

Ser-se mulher pressupõe ter de lidar com um número variado de stressors adicionais, fruto de uma sociedade que ainda discrimina muito mais o género feminino. A vivência de feminilidade pode ser terreno fértil para o desenvolvimento de psicopatologia, e, nesse sentido, é necessária a prestação de cuidados de saúde que atendam às necessidades específicas das mulheres.

Fonte: Freeman, J. & Freeman, D. (2013).The Stressed Sex: Unconvering the Truth about Men, Women and Mental Health. Oxford: Oxford University Press.