Isto não é nada! É só um hábito inofensivo…
A perturbação de escoriação (skin picking ou dermatilomania) é uma perturbação que pode surgir em qualquer idade, independentemente o género (embora seja mais prevalente nas mulheres). A sua fase inicial parece estar associada à adolescência por ser uma fase em que os jovens se viram mais para o próprio corpo e para as suas “imperfeições” (ex. acne). As áreas do corpo mais afectadas tendem a ser aquelas em que o acesso é mais facilitado como a cara, mãos, braços e pernas.
Numa primeira fase, o comportamento em si parece “inofensivo” pois a própria pessoa não o entende como sendo uma perturbação e sim apenas uma tentativa de camuflar algumas imperfeições que possam existir na pele. Pode ser focado na redução ansiosa ou ser mesmo imperceptível à pessoa por já se ter tornado um hábito automatizado. O impulso de escoriar a pele pode, por exemplo, surgir enquanto a pessoa lê, vê um filme, espera o autocarro… e o comportamento que inicialmente parecia “inofensivo”, mas incontrolável, de arranhar ou tirar crostas na pele torna-se um problema pela evidência das lesões cutâneas.
Ainda assim, é importante perceber que este comportamento normalmente não acontece na presença de outras pessoas. Aliás, os pacientes indicam que existe um enorme esforço para que este comportamento não seja perceptível aos olhos de ninguém. Muitas vezes há o recurso ao uso de maquilhagem e roupas mais largas ou “mais tapadas” para esconder os danos causados pela pessoa, no próprio corpo.
Segundo o DSM-V (Manual de diagnósticos psiquiátricos), esta perturbação surge associada à Perturbação obsessivo-compulsiva pelo desejo intenso e repetitivo de beliscar, espremer, arranhar ou morder a pele. Esses comportamentos repetitivos tornam-se hábitos incontroláveis, produzindo lesões que causam sofrimento e prejuízos em áreas importantes da vida da pessoa. Quando a pessoa toma consciência de que tem este problema, já existem várias tentativas frustradas de acabar com o comportamento repetitivo. A pessoa descreve uma sensação de perda de controlo, constrangimento e vergonha pelo impacto negativo que este comportamento tem na sua imagem corporal. Em consequência disso, a vida pessoal, social e profissional fica altamente comprometida.
Embora as causas para este comportamento sejam pouco claras, parece ser consensual estar associado a uma tentativa de compensação ansiosa. A necessidade de escoriação da pele pode ter como gatilhos pensamentos críticos, emoções negativas, locais ou actividades muito específicas. No entanto, não nos podemos esquecer de que é importante despistar se o ato de beliscar não se deve a questões fisiológicas (consumo de substâncias), condições dermatológicas (acne) ou a condições psicopatológicas relacionadas a conflitos emocionais (perturbações de personalidade, ansiedade, depressão, tricotilomania…). O acompanhamento destes pacientes deve envolver uma estratégia multidisciplinar e pode envolver técnicos de dermatologia, farmacologia (antidepressivos e antipsicóticos) e psicoterapia (técnicas cognitivas e comportamentais).
Esta perturbação começa por aliviar a angústia da ferida emocional com o comportamento repetitivo de esfregar e/ou arranhar a pele e passa a ter contornos físicos bem visíveis.
Agora que lhe falei um pouco neste tema, já reparou que talvez possa ter mesmo o “hábito” incontrolável de beliscar a pele? Que na sequência desse hábito, talvez se isole e deixe de fazer coisas que seriam importantes para si? Quer acabar com os impulsos “incontroláveis” e não sabe como?
Caso sinta que este artigo o ajudou a esclarecer algumas questões e se tenha identificado com alguns comportamentos, não sofra mais. Procure ajuda de um profissional.
Contacte-nos e cuide de si.
Paula Brito
Psicóloga clínica
CP 019569
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