Autor: Margarida Marcão
O medo de cobras, alturas, aranhas, até o medo de palhaços parecem poder fazer algum sentido para a maioria das pessoas, mas que uma pessoa tenha medo de ser feliz já é coisa para a maioria de nós duvidar. Não é o que toda a gente quer, ser feliz? Então porquê o medo de o ser? Não parece fazer muito sentido, mas a verdade é que acontece. Há pessoas que, efectivamente, têm medo de serem felizes e há explicação para isso.
Em 2013 foi publicado um estudo no qual foi usada uma Escala de Medo da Felicidade, que media a que nível as pessoas associavam o sentirem-se felizes à possibilidade de acontecer alguma coisa má como presumível efeito de recentemente se terem sentido felizes. Foram identificadas diferentes correlações entre medo e felicidade. Por exemplo, os indivíduos com depressão evitam frequentemente actividades que lhes poderiam fazer sentirem-se felizes, fugindo assim da possibilidade (ou inevitabilidade, como tantas vezes acreditam) de sofrerem uma desilusão, ou de se sentirem sós depois, ou qualquer outra coisa que os faça sentirem-se ainda mais deprimidos.
Mesmo que não tenham nenhuma perturbação mental, as pessoas podem ter tido experiências de vida em que muitos acontecimentos positivos foram seguidos de um acontecimento mau. A percepção da pessoa pode ter-se alterado, não reparando nas vezes em que nada de assinalável sucedeu um momento feliz. Eventos traumáticos podem criar uma memória tão forte que oculte outros eventos, também importantes mas menos evocativos. Quando memórias emocionais fortes se desenvolvem em torno de uma experiência de felicidade seguida de uma desilusão ou dor, desenvolvem-se filtros perceptuais que levam a pessoa a evitar oportunidades de se sentir alegre, devido ao medo de que alguma coisa má aconteça de seguida.
Pessoas com tendência para o perfeccionismo podem recear sentirem-se felizes porque algures na sua história associaram felicidade a preguiça ou falta de produtividade.
Padrões de pensamento de “tudo ou nada” distorcem a memória e as forma de olhar para os acontecimentos. Por exemplo, um recém-licenciado está a sentir-se muito feliz na festa que os amigos lhe prepararam por ter terminado a licenciatura, mas depois da festa, a caminho de casa, tem um pequeno acidente de carro. Este acidente foi uma experiência tão forte que ao lembrar-se dele reparou que nesse dia também perdeu a carteira e que o seu clube de futebol perdeu a Taça, o que reforçou a sua associação entre felicidade e consequente azar.
Estas associações distorcidas tornam-se um hábito mental e podem ser necessários apenas alguns eventos marcantes para que isto aconteça.
Se se identifica com este medo de ser feliz, é importante que saiba que é possível desfazer estas associações. A psicoterapia tem resposta para o seu problema.