A neuropsicologia clínica é uma ciência cujo foco é o comportamento humano. Ao analisar qualitativamente o funcionamento do cérebro, a neuropsicologia pode identificar de forma precoce alterações no desenvolvimento cognitivo e comportamental para posteriormente fazer o diagnóstico e intervenção terapêutica.
Imaginemos o cérebro como o hardware de um computador. Se, por alguma razão, o hardware não funcionar correctamente, podemos corrigir o que está menos bem de modo a que possa funcionar de forma adequada, determinando o quanto somos eficientes.
A estratégia passa por fazer de forma contínua ligações de auto-regulação, desviando a atenção do que nos aflige e centrando-a no uso de ferramentas que promovam ligações cerebrais ajustadas. Este reajuste deve-se ao que denominamos de neuroplasticidade – a capacidade de o sistema nervoso adaptar e reorganizar as suas propriedades morfológicas e funcionais de forma mais ou menos prolongada, com base nas experiências internas e externas ao indivíduo.
São as conexões do cérebro que permitem o adequado funcionamento dos nossos pensamentos e emoções. Segundo Álvaro Pascual-Leone, “em resposta aos sinais que os sentidos trazem do mundo externo e a produção de pensamento ou movimentos que envia para o mundo, o cérebro passa por mudanças contínuas” (2005) e faz um remapeamento das conexões entre as células nervosas. Assim, as modificações comportamentais ocorrem ao longo de toda a vida, através do desenvolvimento da capacidade de aprendizagem e do refinamento de habilidades adquiridas.
A neuropsicologia ganha um peso cada vez maior em contexto clínico por se considerar importante explicar o funcionamento cerebral e optimizar as suas funções. Existem vários estudos científicos que provam que os padrões cerebrais se correlacionam com o comportamento exteriorizado. Exemplo disso é a tendência para a depressão, ansiedade, distracção, obsessão e agressividade. Hoje a maioria das pessoas anda sobrecarregada e com o alarme do stress accionado, acabando por interiorizar uma auto-culpabilização pelo desconforto associado a demasiados circuitos stressantes e a poucos circuitos emocionais positivos. O problema é que por vezes as pessoas não se permitem sentir por medo, e esquecem-se de que os circuitos emocionais só se reorganizam de forma adequada quando nos permitimos sentir genuinamente as emoções. É muito importante a ajuda de um profissional, pois apesar de o cérebro ser uma “máquina” altamente sofisticada, também é uma criatura de hábitos que prefere ser constantemente infeliz a ser periodicamente feliz. Qualquer coisa nova activa o estado de alerta (ex: aprender a conduzir), no qual inicialmente hesitamos, temos todos os cuidados, mas, à medida que o tempo passa, vamos ficando mais flexíveis, mais seguros e permitimo-nos usufruir do bem-estar que essa actividade nos proporciona.
Existem diversos procedimentos e técnicas que reduzem o impacto limitador das dificuldades da vida diária, pois um ambiente apropriado aumenta a consciência das limitações, reforça a independência e as potencialidades, na medida do possível.
As descobertas científicas mais recentes referem que a plasticidade cerebral permite que o cérebro crie alicerces e adie eventuais disfuncionalidades sintomáticas de quadros degenerativos através da possibilidade de reabilitar desequilíbrios provocados por lesões físicas (no sistema nervoso central, periférico, acidente vascular cerebral…) mentais (fobias, depressão, perturbação obsessiva compulsiva…) optimizando também a capacidade de estimular emoções positivas.
É a interacção das funções cerebrais que permitirá, por exemplo, o bom funcionamento do pensamento, aprendizagem, memória, linguagem, atenção, resolução de problemas.
No caso do atendimento infantil, a neuropsicologia pode ser útil quando a criança apresenta sinais de:
• Transtorno do deficit de atenção e hiperactividade
• Dificuldades de aprendizagem
• Atraso cognitivo e mental
• Síndromas genéticas
• Distúrbios de comportamento
• Doenças neurológicas e outras
• Autismo.
No caso do atendimento a adultos, a neuropsicologia pode ser útil quando identifica alterações cognitivas advindas de lesões específicas no sistema nervoso central e as suas implicações funcionais:
• Queixas de memória e linguagem
• Esclerose múltipla
• Traumatismo crânio encefálico (TCE)
• Acidente vascular cerebral (AVC)
• Alterações metabólicas ou hormonais
• Comprometimento cognitivo leve
• Demências
• Alterações comportamentais e/ou psiquiátricas
• Outras doenças neurológicas.
Bibliografia: Begley, Sharon, “Treine a Mente, Mude o Cérebro”, Ed. Fontanar, 2007.
Muito bom artigo, parabéns ;)
Obrigado!
Abraço,
Oficina de Psicologia