Autor: Inês Mota
O divórcio ou a separação constitui-se como uma crise intensa que inclui diversos movimentos de acomodação a realidades em transformação. É sabido que o divórcio é das crises que mais impacto provoca, desencadeando níveis muito elevados de stress e de sofrimento psicológico.
Um autor, Paul Bohannan, concebeu um modelo que nos ajuda a compreender a multiplicidade de tarefas concorrentes que o divórcio despoleta. O autor descreve seis processos paralelos de divórcio: o emocional; o divórcio legal; o divórcio económico; o divórcio parental; o divórcio comunitário e o divórcio psicológico.
Para aqueles que infelizmente fizeram a travessia desta crise, ou pela reflexão de casos de amigos, percebemos que estes processos podem ocorrer numa sequência variável, ou em sobreposição, podendo ter cada um intensidades diferentes de acordo com cada situação.
O divórcio emocional inicia-se pela consciencialização crescente da insatisfação e do descontentamento. Começa a haver um foco mais intenso nos aspectos negativos da relação, sendo que pelo menos um dos membros acaba por reduzir o investimento emocional, distanciando-se, até que começa a ser ponderada a separação. Corresponde à cadeia de situações e sentimentos que acompanham todo o processo de divórcio.
Na fase correspondente ao divórcio legal executam-se todos os procedimentos correspondentes à tomada de decisão judicial, sendo que este processo origina o divórcio económico, que corresponde à partilha de bens e atribuição de pensão de alimentos. Actualmente, com a crise financeira, esta é uma fase que gera muita angústia ou mesmo desespero, já que cada um poderá experimentar uma diminuição dos recursos financeiros, tornando-se fulcral nesta fase o desenvolvimento de novas competências de gestão financeira.
O divórcio parental corresponde à noção de que os pais se divorciaram um do outro mas não dos seus filhos, e que por isso terão de continuar a sua relação de co-parentalidade. Sabemos que este processo corresponde a momentos difíceis de gestão de zanga e conflitos.
O divórcio comunitário reflecte o processo relativo aos movimentos de proximidade e de afastamento da família e de amigos, já que são amadurecidos os receios de tomadas de posição por parte destes, e a concretização da presença ou ausência do apoio familiar e social. Como consequência pode advir o problema da solidão e isolamento, numa fase tão necessitada de apoio.
O divórcio psicológico engloba questões de autonomia e de reconstrução da identidade, já que conduz à separação da influência e poder do cônjuge. Este processo corresponde à “verdadeira separação”, já que permite que se aprenda a viver sozinho e não em casal.
De acordo com a explicitação destes seis processos, ficam muito claros os múltiplos impactos que o divórcio provoca, bem como as várias tarefas de ajustamento necessárias, muitas vezes em simultâneo, o que torna compreensível a sensação de “fim de mundo” percepcionada por muitas pessoas, mas também as mudanças de 180 graus que a separação pode permitir.