“Eu achava que teria que conviver com meus medos e dificuldades para sempre, até conhecer o EMDR e ver que as coisas poderiam ser diferentes”, com os olhos brilhando falou a terapeuta que proporcionou minhas primeiras sessões em EMDR. Eu nunca tinha ouvido falar desta abordagem na Universidade de Psicologia, nem nos anos seguintes, até que um dia li sobre um método inovador e revolucionário. Um dos livros sobre o tema propagava a tão ansiada “Cura emocional em velocidade máxima”. Não resisti. Como São Tomé … já sabe.
Cheguei ao consultório como boa mineira bastante desconfiada. A solícita terapeuta dos olhos brilhantes me disse que iria usar um protocolo básico da abordagem. Ela começou me perguntando o que eu gostaria de trabalhar. Até ai, tudo bem, terreno conhecido. Vamos começar aos poucos, pensei. Ledo engano! Foram três sessões para conhecer a tal abordagem misteriosa e, em seguida, render-me aos seus encantos e lançar-me em sua formação. Já havia passado por quase 10 anos de terapia com profissionais maravilhosos e em três encontros havia chegado a um tema profundo, capaz de modificar a forma como eu olhava para parte da minha história. Pronto, estava fisgada!
O EMDR inicialmente começou a ser utilizado no tratamento de pacientes que sofriam de stress pós traumático. Atualmente, o uso do EMDR foi ampliado para o tratamento de outras patologias bem como para auxiliar no aperfeiçoamento pessoal e profissional. Além de abordar traumas como abuso sexual, acidentes e fobias, é possível tratar situações traumáticas de vida como alguém que sofreu bullying, ou foi constantemente tratado como incapaz.
O trabalho pode parecer complexo, mas é simples, contudo rico e sério, sendo desenvolvido por profissionais certificados e treinados. As bases de seu funcionamento no tratamento de traumas ainda precisa ser melhor esclarecida, mas se assemelha ao que ocorre no sono REM (Rapid Eye Movement ou “movimento rápido dos olhos”). Através da estimulação bilateral e dos protocolos de tratamento do EMDR, possibilita-se que a pessoa processe a informação que a perturbava há um dia, um mês ou em geral, há anos. Pode-se assim proporcionar o fim de ciclos repetitivos. As experiências traumáticas podem ser “arquivadas” e se integrar às demais memórias, sem agora provocar tanta dor como antes. Além disso, muitas vezes se “recuperam” ou volta-se a acessar algumas lembranças positivas que antes não eram percebidas ou lembradas devido ao bloqueio gerado pelo trauma.
“Deixando o seu passado no passado”, é o título sugestivo de um dos livros da autora Francine Shapiro, fundadora desta proposta de trabalho no final da década de 80. “Não está em mim”, “quando vi, fiz aquilo de novo”, dizem alguns pacientes. É como se o indivíduo ficasse “congelado”, preso ao passado, com reações significativas e por vezes sem sentido, mas que ocorrem no presente, como se “respondesse” às memórias difíceis e não ao que ocorre aqui e agora.
O EMDR tem diversos protocolos de trabalho e várias pesquisas, tornando-se possível realizar através dele uma psicologia “mais científica” ou baseada em evidências. Desta forma, oferecemos algo novo e efetivo aos pacientes já cansados de dizer que seus terapeutas (nem todos, é claro) só ficavam olhando para eles enquanto falavam. Muitos não sentiam que a terapia estava sendo efetiva ou que realmente foram ouvidos. É claro que cada abordagem tem suas contribuições, mas pergunto, se isso já aconteceu com você, um parente ou amigo.
O EMDR ativa o processamento adaptativo ou acelerado de informações, possibilitando a integração de memórias traumáticas e difíceis “bloqueadas” por anos em suas mentes. “Parece que suas mãos são mágicas”, disse uma paciente privada de viajar ou por vezes até mesmo sair de casa devido ao Transtorno de Pânico que sofria há alguns anos. Descobrimos que aqueles sintomas tão perturbadores trazidos pelo pânico, em seu caso, tinham como origem a relação traumática e violenta vivida na infância com sua mãe. Após algumas sessões, lá estava ela feliz me contando que havia viajado para visitar parentes e já não apresentava mais aqueles sintomas.
É claro que há limitações e o EMDR não é uma panaceia. Por vezes o tratamento pode ser inicialmente denso e nem sempre a velocidade de tratamento é tão rápida, devido a fatores como a quantidade de memórias traumáticas vividas. Afinal, não é mesmo fácil abordar situações tão delicadas, traumáticas e por vezes vividas repetidamente. Contudo, em geral é eficaz e sugiro que, como eu, você também possa experimentar o método, para ver e viver seus benefícios!
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Autora: Carolina Peixoto