Ter ou não um filho, eis a questão? Que fantasias ou motivações estarão na origem desta decisão?
Se reflectirmos sobre este tema e se olharmos para as muitas mães que nos rodeiam, poderemos certamente assinalar várias e diferentes motivações que as levaram ou não à maternidade e de alguma forma, ao modo como consequentemente educam e cuidam dos seus filhos. Vamos tentar discriminar algumas “maternidades”:
Temos as mulheres que nunca desejaram ter um filho – nunca desejaram ser mães e por isso nunca fantasiaram sobre a possibilidade de criar um filho. Se (por contingências da vida) estas mulheres se tornam mães, a experiência da maternidade pode ser algo assustadora e exigente, uma vez que é muito dificil reconhecer necessidades de alguém que é física e psicologicamente distinto de nós, quando estas necessidades nunca foram pensadas, ensaiadas ou desejadas antes.
Temos as mulheres que fantasiam e idealizam um filho – muitas vezes numa espécie de desejo de reparar relações pessoais não gratificantes, cuidam tendo por base aquilo que sempre idealizaram sem reconhecer muitas vezes as iniciativas e necessidades do próprio filho. Aquilo que por vezes é considerado importante para o seu filho, nem sempre coincide com aquilo que realmente é importante para ele (não por uma imposição consciente, mas por uma interpretação idealizada daquelas que serão as necessidades do filho).
Temos as mulheres que querem um filho – um filho que cumpra as suas necessidades, vontades, desejos e aquilo que consideram correcto na sua vida pessoal. A (im)possibilidade de executarem determinadas actividades, terem ou não acesso a determinados cuidados e/ou bens, faz com que implementem conscientemente determinados procedimentos na educação dos seus filhos, mesmo que estes não estejam de acordo com as características dos pequenos.
Temos as mulheres que desejam ter um filho – mas reconhecendo-o como uma fonte de iniciativas e vontades próprias que poderão ir (ou não) ao encontro das suas, vivem com alguma ansiedade, insegurança e medo de perder quem sentem como tão significativo, pelo que fazem tudo para controlar a atenção dos filhos e necessidade de agradar. Muitas vezes esta insegurança está na base de uma hiperprotecção para que nada falte à criança.
Temos as mulheres que desejam o papel de mães – pelo que vão seguindo modelos educativos e cuidados daqueles que lhe são próximos, vão ensaiando modos de cuidar que vão ao encontro daquilo que é socialmente esperado ou desejável, de acordo com o contexto envolvente.
Temos as mulheres que assumem o papel de mães – que se preocupam excessivamente com o cumprimento do que é esperado em termos sociais, de forma a que ambos (mãe e filho) sejam bem aceites e respeitados nos grupos de pertença. Apresentam por isso um funcionamento mais racional (segundo regras e normas) para que nada fuja ao controlo. Por vezes neste excesso de funcionalismo existe pouco espaço para a expressão emocional não só dos filhos enquanto indivíduos singulares, mas também da família enquanto célula colectiva.
Temos as mulheres que não querem ter um filho – pois reconhecem pouca disponibilidade nas suas vidas para essa possibilidade, tendo em conta a exigente responsabilidade da maternidade. E neste caso a não maternidade é uma opção resultante da ponderação entre a exigência do papel de mãe e as características e/ou condições de vida da mulher.
E temos as mulheres que querem ser mães de um filho – ser mãe de alguém que é reconhecido como distinto de si e aceite como tal. Estando inteiramente disponíveis para cuidar, reconhecem as suas iniciativas, dão resposta às suas necessidades (que poderão ir ou não ao encontro das suas); possuem a disponibilidade emocional necessária para cuidar de um filho tal como ele é na realidade, sem idealizações e sem imposições relacionadas com os seus próprios percursos pessoais.
A difícil e exigente tarefa de ser mãe é muito mais complexa do que muitas vezes imaginamos. A extraordinária responsabilidade de criar seres humanos depende em muito da forma como pensamos, desejamos e sentimos as coisas e os outros na nossa vida.
Que futuro lhe quer dar?
Esperemos ter lançado o mote para reflexões pessoais no seu papel de mulher e mãe.