A depressão pós-parto é uma condição já muito falada nos meios de comunicação social. Se fizer uma rápida pesquisa no Google encontrará definições como:
“A depressão pós-parto é um quadro clínico que pode surgir nas mulheres, na fase puerperal, normalmente nas quatro semanas após o parto, e se caracteriza pela presença de um conjunto de sintomas que prejudicam a relação mãe-bebé.”, Sapo Saúde
“(…) as recém-mães, por vezes, podem desenvolver um tipo de depressão mais severa e prolongada, denominada de depressão pós-parto. Não se trata de uma falha de carácter ou um sinal de fraqueza.”, Mayo Clinic
“O pós-parto é um período de risco psiquiátrico aumentado no ciclo de vida da mulher. A depressão pós-parto (…) pode se manifestar com intensidade variável, tornando-se num factor que dificulta o estabelecimento de um vínculo afectivo seguro entre mãe e filho (…)”, ABC da Saúde
No entanto, o que estas definições ignoram é que a depressão pós-parto também pode ocorrer nos homens – e é mais frequente do pensamos.
De facto, a depressão pós-parto é uma condição depressiva característica da gravidez e do período após o nascimento do bebé. Pode incluir sintomas como: perda de apetite e insónias; irritabilidade ou comportamento agressivo; falta de energia ou fadiga intensa; sentimentos de tristeza, culpa ou vergonha; crença de se ser inadequado/a; alterações de humor bruscas; dificuldades em criar uma ligação ou cuidar do bebé; isolamento de familiares e/ou amigos; e pensamentos sobre magoar o seu bebé.
Estatisticamente é uma condição que afecta entre 10% a 30% das mulheres e provoca grandes alterações no desenvolvimento da criança – podendo dar origem a problemas de vinculação entre a mãe e o bebé, e consequentes problemas psicológicos ao longo da vida.
E nos homens? Como é visível esta perturbação nos pais? E como afecta o desenvolvimento dos seus filhos?
Tal como as mulheres, os homens na fase pós-parto encontram-se numa altura muito propícia a desenvolver problemas psicológicos. Segundo dados estatísticos, os homens têm uma probabilidade de 10,4% de desenvolver depressão após o nascimento do seu filho, sendo que este valor sobe se considerarmos apenas os primeiros 3 a 6 meses de vida do bebé.
Os estudos também têm revelado que a existência de depressão no pai está correlacionado com a presença de depressão na sua companheira – ou seja, se a mãe desenvolver depressão pós-parto, é mais provável que o pai também desenvolva estes sintomas, e vice-versa. No entanto, são problemáticas que podem existir independentemente.
Em suma, estes dados demonstram que pelo menos um, em cada dez novos pais, sofre de depressão pós-parto, e que, muitas vezes, as suas companheiras tendem a apresentar sintomas semelhantes.
Estes dados devem-se ao facto de que o período do pós-parto é uma altura muito desafiante para os casais, e que traz inúmeros stressores que desorganizam a rotina e o bem-estar dos novos pais. É muito importante estar atento aos sinais ou sintomas de depressão pós-parto, anteriormente referidos, uma vez que podem trazer grandes obstáculos para o desenvolvimento do bebé. Nos primeiros tempos de vida de uma criança, a relação com os seus pais é um bem tão essencial como a alimentação. Sem o estabelecimento de uma relação segura, de afecto e apoio, a criança verá o seu desenvolvimento altamente comprometido.
No que concerne à depressão pós-parto masculina, os estudos têm demonstrado que afecta, essencialmente, o desenvolvimento social da criança. Isto é, não ter um pai que esteja emocionalmente estável e capaz de estar presente no dia-a-dia do seu bebé, pode a comportar a que, anos mais tarde, esta criança tenha dificuldades na relação com os outros. Estas podem demonstrar-se através de problemas de comportamento ou desobediência ligeiros, ou chegar até verdadeiros diagnósticos de perturbações psicológicas, tais como a perturbação oposicional desafiante ou a perturbação de conduta.
O que os investigadores encontraram é que na depressão pós-parto na mãe, a criança tende a ter um desenvolvimento global afectado; porém, quando se fala dos pais, há uma maior especificidade das consequências que podem surgir na criança, sendo as capacidades sociais as principais atingidas.
Este facto pode relacionar-se com o papel do pai estar mais interligado com estas capacidades de socialização da criança; ou pode estar relacionado com os sintomas, em particular, apresentados pelo pai. Por exemplo, a presença irritabilidade, agressividade e alterações bruscas de humor, podem levar a um comportamento parental disruptivo para a criança. Como diz o ditado “tal pai, tal filho”, e desde pequenos aprendemos muito por imitação dos nossos pais ou por reacção aos seus comportamentos. Por outro lado, se os sintomas mais visíveis forem a tristeza, a fadiga e a falta de interesse, isto também pode criar uma relação pouco saudável entre pai e criança, uma vez que este pai não vai estar nada capaz de cumprir as tarefas diárias de cuidar de um bebé.
Em conclusão, a depressão pós-parto é uma condição psicológica séria e que coloca em risco a vida do casal e da família, em especial o desenvolvimento da relação entre pais e filhos, que é tão essencial a um crescimento saudável da criança. Nos homens esta é uma problemática muito pouco falada, dado que ainda hoje muitas pessoas acreditam que “um homem não chora” e que não precisa de pedir ajuda. Contudo, percebendo agora as consequências graves que a depressão pós-parto pode trazer, não será melhor começarmos a mudar as nossas mentalidades e a dar uma mão, tanto às mães como aos pais, que estão a precisar?
Autor: Catarina Cunha
Fontes:
Paulson & Bazemore (2010). Prenatal and Postpartum Depression in Fathers and its Association with Maternal Depression: a meta-analysis. Journal of the American Medical Association, 303 (19), 1961-1969.
Ramchandani, P., & Phil, D., & Stein, A., O’Connor, T., & Heron, J., & Murray, L., & Evans, J. (2008). Depression in men in the postnatal period and later child psychopathology: a population cohort study. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 47 (4), 390-398.
Nota:
Infelizmente, este artigo não pode referenciar famílias não-heterossexuais, uma vez que ainda não existem dados na investigação acerca da depressão pós-parto nestes casos.