“Pai, tenho medo…”
Como distinguir os medos normativos dos patológicos
Muitas vezes chegam ao consultório pais com dúvidas acerca dos medos dos filhos, tendo dificuldades em compreender se é algo considerado normal para a idade da criança ou se constituiu um problema.
Todos temos diversos medos ao longo de um desenvolvimento saudável, que podem variar de intensidade na própria criança e de criança para criança.
São chamados medos normativos, pois são medos universais: independentemente do meio (nacionalidades, condições financeiras, religiões, etc.), as crianças enfrentam medos idênticos com as mesmas idades. A nível evolutivo, o ser humano tem uma predisposição inata para desenvolver certos medos que têm como função a adaptação e proteção.
Alguns medos são típicos em determinadas faixas etárias:
– antes dos dois anos: ansiedade de separação; ansiedade a estranhos; medo de novos estímulos (ruídos fortes, objetos ameaçadores);
– dos dois aos três anos: medo do escuro, medo de animais pequenos;
– cinco anos: pessoas “más” ou “malvadas”; medo de ferimentos corporais;
– seis anos: seres sobrenaturais; dormir sozinho; relâmpagos ou trovões;
– dos sete as oito anos: medos baseados em acontecimentos relatados nos meios de comunicação social (catástrofes naturais, guerras, atentados terroristas, doenças, ser raptado);
– nove anos: rendimento escolar; aparência física; medo da morte.
Causam muito mal-estar e as reações intensas da criança podem preocupar os pais, que se questionam “como posso saber quando a ansiedade do meu filho já não é normal?”
Os medos próprios da infância são transitórios, desaparecendo por si mesmos. Podem tornar-se anormais se:
– forem inapropriados relativamente à idade – aparecem num período de desenvolvimento em que não seria esperado, ou se perduram para lá do período normal. Vejamos alguns exemplos: uma criança de 8 anos com ansiedade de separação da mãe quando vai para a escola; ou uma criança de 7 anos que foge ou fica calada quando conhece uma pessoa nova; ou uma criança que aos 11 anos ainda necessita de uma luz acesa para dormir.
– Ou se forem excessivos, ou seja, se forem mais intensos do que é habitual numa criança de determinada idade, chegando, por vezes, por se manifestar através de sintomas psicossomáticos, causando mal-estar significativo na criança e/ou tendo impacto nas rotinas familiares.
Se continua a ser difícil para si perceber se o medo do seu filho ultrapassou o normal e se tornou excessivo, considere a hipótese de consultar um psicólogo clínico, que avaliará a situação e facultará estratégias práticas muito úteis à criança e aos pais para dizerem adeus aos medos mauzões.
Raquel Carvalho
Psicóloga Clínica
Equipa Mindkiddo – Oficina de Psicologia
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