Num momento ou outro, todos já ouvimos partes de conselhos românticos tais como: “rapazes bons terminam em último” ou “trate-o mal para o manter interessado”, o que sugere que ser demasiado agradável o deixará em desvantagem no mundo dos casais. Estes velhos ditados continuam a ser usados na cultura dos encontros – está a par do mais recente fenómeno popular, o “negging”? Basicamente, consiste em fazer um elogio, do género “gosto dos teus olhos… estás a usar lentes?”, com o objetivo de subtilmente diminuir o valor social da pessoa a quem está a tentar atrair. Existem algumas provas de que os traços de personalidade associados a ser um “idiota”, a pouca amabilidade e conflito, a alta extroversão e a abertura à experiência, juntamente com o narcisismo, o maquiavelismo (ser manipulador) e a psicopatia (insensibilidade, mentira, procura de emoção) estão associados ao aumento do comportamento sexual, particularmente no que diz respeito a relações de curta duração. Mas isto reflete o que as pessoas realmente procuram numa relação? Os bons rapazes chegam verdadeiramente em último?
Pessoas altruístas têm mais parceiros sexuais?
Uma área de investigação que parece contrastar com esta noção é o estudo do altruísmo como um sinal sexual. O altruísmo implica comportar-se de maneira benéfica para com o outro, com algum custo para o próprio. Recentemente, a evidência convergente sugeriu que o altruísmo pode desempenhar um papel importante na eleição do companheiro, destacando assim um caminho potencialmente importante no qual as boas ações que se fazem em relação a desconhecidos (como por exemplo, doar sangue, ajudar a empurrar um carro de um desconhecido na neve) podem ter evoluído.
Esta teoria sugere que o altruísmo pode servir, em parte, para transmitir o valor de cada um como par, incluindo a preocupação com os outros e a probabilidade de cooperar com futuros companheiros. A investigação demonstrou que preferimos os altruístas, em igualdade de circunstâncias, especialmente para relacionamentos a longo prazo (a evidência é mista no caso de companheiros a curto prazo. Então não é de estranhar a necessidade de mostrar que se é altruísta.
Algumas investigações demonstraram que os homens competirão ativamente entre si (denominado altruísmo competitivo) ao fazer doações às mulheres. Curiosamente, estas doações de caridade aumentam quando o objetivo final do altruísmo é fisicamente atrativo.
Arnocky & Barclay (2016) defendem que através desta investigação se pode depreender que as pessoas costumam preferir os altruístas. No entanto, no mundo real nem sempre as preferências se traduzem em decisões sexuais. Além disso, os autores queriam saber se os altruístas também têm mais sucesso na procura de parceiro. As conquistas anteriores nos povos caçadores-recoletores demonstram que os homens que caçavam e partilhavam a carne tinham maior acesso reprodutivo com as mulheres. Mas será que se mantêm estes vínculos noutros ambientes culturais e contextuais da sociedade contemporânea?
Para se conseguir saber a resposta, os autores realizaram dois estudos:
1) No primeiro estudo, homens e mulheres preencheram um questionário sobre altruísmo (com perguntas tais como “doou sangue?”), juntamente com uma escala sobre a sua história sexual. Os participantes também completaram um inventário de personalidade, tendo em consideração a hipótese de que certas pessoas com determinadas características de personalidade (como ser extrovertido), participariam em mais atividades altruístas e tinham uma maior atividade sexual. Percebeu-se que as pessoas que tiveram pontuações mais altas na escala de altruísmo também referiram que eram mais desejadas pelo sexo oposto, tinham mais parceiros sexuais estáveis, parceiros sexuais mais casuais e relações sexuais mais frequentes dentro das relações (ainda que este último resultado não seja estatisticamente significativo depois de se controlar as variáveis de personalidade). Os modelos estatísticos (incluído as covariáveis) mostraram uma variância de 13 a 26% para as variáveis de comportamento sexual. Por outro lado, o altruísmo importava mais para os homens, tendo em conta parceiras duradouras e parceiras sexuais casuais, do que para as mulheres.
Uma limitação deste primeiro estudo prendeu-se com a possibilidade de as pessoas poderem ter relatado o altruísmo ou as suas histórias sexuais de uma forma pouco realista. Por exemplo, algumas investigações demonstraram que os homens sobrevalorizam e as mulheres subvalorizam o número de parceiros sexuais na sua vida.
2) Para evitar isto, num segundo estudo utilizaram a medida comportamental mais subtil do altruísmo. No final do estudo, cada participante participou num sorteio de 100$, sendo que lhes foi dada a opção de guardar o dinheiro ou doar para uma organização benemérita. Os participantes voltaram a dar informação sobre as suas histórias sexuais, completaram um novo questionário de personalidade, assim como uma escala de resposta socialmente desejável e um questionário de narcisismo. Os resultados mostraram que, mesmo controlando estas variáveis, os que doaram dinheiro referiram ter mais parceiras sexuais duradouras, mais parceiras sexuais casuais e mais parceiras sexuais durante o último ano, com modelos que explicavam entre 7 a 28% de variância das variáveis de comportamento sexual. Os homens que estavam dispostos a doar o dinheiro também disseram ter mais parceiras ao longo da vida. Por outro lado, os traços de personalidade não se relacionam significativamente com as histórias sexuais.
Por isso, a pergunta que se impõe é – como tem estado o seu altruísmo?
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