Autor: Mariana Oliveira
Nesses últimos meses fui levada a pensar no tempo e suas co-relações por conta de um Congresso que me mobilizou não só a pensar, como a agir (pude presenciar, enquanto diretora, um momento lírico e completamente espontâneo no sociodrama que eu e Clarissa fizemos, com o título “Quanto vale o seu tempo?”). A partir de então, fui imbuída de pensamentos em cadeia: tenho aproveitado meu tempo? – Como tenho feito isso?- a vida é feita de momentos? – o que torna um momento bom? Momentos de prazer? Mas a felicidade, que enfim, e o que eu busco, é um sentimento duradouro…
Os momentos de prazer podem produzir um bem estar, mas estes são efêmeros. Simbióticos, porém distintos, o prazer não tem nada a ver com a felicidade. A sociedade hedonista tem propagado que o prazer imediato te deixa feliz, por isso compre, experimente, se jogue, ao invés de seja, saboreie, não faça da sua vida um jogo, pois há muito o que perder. Momentos (estou prazer como fruto do momento: aquele momento que come o chocolate, que compra aquela roupa, que usa aquela droga) tornam-se inesquecíveis…Ok, pode ser, mas quando meus clientes chegam falando sobre sua compulsividade e sua depressão, esses momentos nada valem de nada e cabe a dura tarefa de encontrar beleza numa vida constante, rotineira, cotidiana e torná-las em vidas felizes. As pessoas esquecem que também temos momentos de decepção, de mágoa, de irritação que estão completamente fora de nosso controle e nos derrubam desse pedestal de momentos. A imagem que me vem à cabeça é daquelas pilhas de produtos de supermercado. Imaginem uma dessas, de prazeres que você pode comprar, estão ali, à disposição e foram montados, logicamente, da base ao pico. Só que um desavisado chega e tira de repente aquele que estava bem embaixo, porque será colocado um outro tipo de produto, desprazeroso, que também deve começar da base, afinal, é o primeiro. O que acontece?Logicamente, a pilha inteira cai!
Não quero generalizar e dar uma receita de bolo da felicidade para a vida. Não é isso! Podemos ser felizes em uma área e infeliz em outra. O que vai diferenciar no todo é a proporção de importância que cada uma delas tem na vida de cada um. Então, se o vazio se refere ao afeto que não tem dentro de casa, não adianta comprar compulsivamente, não preencherá. Se tem problemas no trabalho, não adianta nada buscar prazer na bebida ou na droga. Se o sonho é constituir uma família, sair transando com qualquer cara satisfará o corpo, mas não a alma. Pelo contrário, todos esses prazeres vão remeter sempre à insatisfação, pois depois da compra vem a culpa, da droga, a depressão, da transa ocasional, a solidão. Não estou falando que não devamos cultivar o prazer, mas sim de qual deve ser a função dele, em qual medida. O prazer deve ser vivido, mas o valor tem que ser dado às coisas certas.
Outro artigo que gostei muito (estou ficando viciado nos artigos aqui). O que mais gosto da vida é realmente que a mesma não tem que seguir uma “receita de bolo” pronta e que seja compartilhada por todos. Acho que a felicidade talvez esteja justamente na forma como você “mistura todos esse ingredientes”. As vezes acertamos, as vezes erramos, mas nunca podemos desistir de tentar. Espero os próximos artigos!