Procuram-se interacções face-a-face para compromisso sério!
Quando pensamos num adolescente, nos dias de hoje, será provável que a imagem que nos surja é um adolescente solitário, de cabeça baixa, pescoço numa curvatura de 90 graus, de olhos postos no telemóvel, pouco interessado no mundo à sua volta.
A palavra-chave nesta caricatura será “solitário”. O tema da Solidão está na ordem do dia, não só exclusiva aos adultos mais velhos, mas transversal aos adolescentes de hoje, a chamada geração Z.
O suspeito do costume? A hiper-conectividade e o uso de redes sociais. Os estudos multiplicam-se sobre este tema: “passar mais de duas horas por dia em redes sociais, duplica a probabilidade de se sentir isolado”; “o uso cada vez mais intenso das redes sociais surge como o responsável por um crescente isolamento face ao mundo real”; “os jovens portugueses que passam muito tempo nas redes sociais sentem-se mais sozinhos”.
No entanto, falta referir um aspecto essencial: a qualidade das interações, sejam elas online ou face-a-face, pois parece ser este ingrediente que define a temática e onde possivelmente se encontra a “solução”. Recentemente, começou-se a perceber que que o sentimento de solidão dos jovens mantinha-se, independentemente do tempo que passava online, e que o factor que definia se o jovem se sentia mais ou menos sozinho seria a frequência com que mantém relações pessoais, face-a-face. Dizendo de outra forma, são as características da comunicação online (e não o tempo dispendido) que criam o sentimento de solidão. O que falta nas interações online são os estímulos sensoriais, o que permite que as interações sejam de qualidade. É com relacionamentos de corpo presente que se desenvolvem competências essencias às interações sociais, desenvolvem-se coperação, empatia, simpatia e se houver a sensação de toque, a hormona oxitocina será libertada, que por sua vez, está relacionada com fenómenos como a criação de laços afectivos, desenvolvimento de confiança com outras pessoas e diminuição da agressividade.
A imagem caricatural descrita acima deve ser reflectiva e questionada. O uso das redes socias online na adolescência deve ser visto como normal e de facto, a geração de que falamos utiliza as redes sociais para enormes benefícios: é uma geração envolvida em causas sociais como o feminismo, alterações climatéricas, movimentos políticos e fazem voluntariado, start-ups e são participativos e empreendedores na sua comunidade e sociedade.
Mas não nos podemos esquecer que nestas idades, em que o cérebro ainda está em desenvolvimento, principalmente em termos de experiências socias, se as relações mais proeminentes forem as online, temos de pensar na qualidade de relações com os pares, como é feita a aprendizagem de gestão de conflitos e como se se constrói a identidade e valores, por exemplo. No “mundo real”, não é expectável que se apaguem as pessoas com que nos zangamos e não existe apenas uma versão optimizada de quem somos, uma não aceitação do que consideramos ser “imperfeito, que, em última análise, pode prejudicar as competências sociais e afectivas de um jovem.
E fica aqui uma ideia provocadora: experimente trocar a palavra adolescente pela palavra adulto, no estereótipo com que iniciei este texto? Será possível que a imagem estereotipado de adolescente que temos, não será um espelho de nós adultos e a nossa relação com as redes sociais. Esta não é uma questão de idade, mas algo extensível a toda a sociedade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz-nos que as redes de suporte social de qualidade são um factor determinante para o bem-estar e quanto mais isoladas as pessoas estão, mais rapidamente se deteriora a sua saúde física e mental.
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Tenho acompanhado um caso de um estudante universitário, hoje perto dos 40. Que quando estava, nalgum lugar, estava sempre ansioso por voltar para casa, mais tarde descobri a razão: Computador (na altura não havia smartphone) agora alheia-se das pessoas à volta para baixar a cabeça, para o telemóvel (maldito)!