Quais são as preocupações dos miúdos no regresso às aulas?
À medida que se aproxima o final das férias e começa a contagem decrescente para o início do novo ano letivo, surge um turbilhão de emoções – desde entusiasmo e curiosidade, às típicas borboletas no estômago. É, claro, natural para os miúdos sentirem estas emoções, mas se o seu filho experiência angústia e preocupação intensa, é essencial compreender a causa e ajudá-lo. Algumas crianças têm um temperamento mais ansioso do que outras, ou já tiveram alguma experiência que as marcou negativamente, e, portanto, o regresso à escola pode ser mais difícil.
Em geral, as crianças têm medo do desconhecido. Este medo pode ser ampliado em momentos mais significativos no percurso académico do estudante, como por exemplo ir para o primeiro ano, mudar de escola, começar o secundário. Entrar em contacto com um novo ambiente no qual não sabemos exatamente como posicionarmo-nos pode ser desafiador até para os adultos.
Podem ser momentos de ansiedade para um aluno imaginar-se num novo espaço, novos professores, novos colegas, diferentes métodos de ensino, novas rotinas, mais responsabilidade. Vejamos de seguida os stressores mais comuns para as crianças e o que os pais podem fazer para as ajudar.
Para as crianças mais novas é comum haver um período transitório de maior ansiedade quando têm de estar afastadas dos cuidadores, no qual sentem medo de se separarem dos pais, ou que algo de mal lhes aconteça – a chamada ansiedade de separação.
Se está a passar por esta fase compreenda que pode ser um momento difícil para o seu filho, pelo que é importante passar-lhe uma mensagem de segurança e previsibilidade: “O pai/ a mãe vai trabalhar e tu ficas aqui a fazer imensas coisas giras, mais logo vimos buscar-te. Diverte-te!” Despeça-se de forma habitual, sem demoras nem hesitações, com afeto e firmeza. Pode deixá-lo levar um objeto especial (brinquedo, peluche…). No final do dia reserve um tempo especial para brincar com ele.
A entrada para o primeiro ano costuma ser acompanhada de preocupações com o novo espaço, novos adultos, fazer amizades… O que fazer para ajudar:
– leve o seu filho a conhecer a escola antecipadamente e questione-o sobre como imagina que será o primeiro dia de aulas. Explore e desmistifique, se necessário, algumas crenças que a criança já tem acerca da escola: as matérias difíceis, os colegas “mauzões”, as aulas aborrecidas… Escute os receios dele demonstrando uma postura compreensiva e empática perante o que ele pensa e sente. Partilhe com ele o que sentiu no seu primeiro dia de aulas e ensine-lhe alguns truques para o ajudar a lidar com as suas preocupações. Explique-lhe que que a ansiedade sentida é normal neste período de adaptação e será passageira, ou seja, à medida que o tempo for passando, ele vai sentir-se mais à vontade na escola e as amizades vão começando a desenvolver-se. Dê enfase aos aspetos positivos e em como será entusiasmante aprender mais e crescer.
Preocupações em relação aos novos colegas ou a colegas que já conhecem e de quem não gostam sã também frequentes. Para algumas crianças as interações com os pares podem ser fonte de ansiedade desencadeando questões como: “Vou ter os mesmos colegas? E se não conseguir fazer amigos? Nas aulas vou ficar sentado ao lado de quem?”.
Como é óbvio, haverá questões que os pais não conseguirão dar resposta, porém é importante transmitir alguma segurança e confiança ao seu filho. Fale abertamente com ele e escute atentamente as dúvidas que ele apresenta, sem as desvalorizar ou ridicularizar. Partilhe os seus receios e experiências positivas que teve na escola. Faça pequenos teatrinhos com o seu filho simulando as situações sociais que o preocupam e como ele pode lidar com isso. Assim, sentir-se-á mais seguro para lidar com situações novas e desafiantes.
Outra preocupação frequente é o bullying: “Vou ficar na mesma turma do menino que costuma gozar e bater? Será que me vai fazer isso este ano?”, que tende a ser uma ansiedade decorrente de uma experiência passada, porém também é comum haver estes receios mesmo antes de terem vivenciado situações de bullying. Nem sempre podemos evitar que nossos filhos se tornem alvos na escola, mas podemos ajudá-los com sua reação aomesmo, sendo importante desenvolver um plano com o seu filho e com a escola sobre o que a criança pode fazer se ocorrer bullyinge como a escola responderá.
Durante o período de adaptação nas primeiras semanas de aulas, as reacções de medo e ansiedade são normativas, porém quando são desproporcionais podem comprometer a sua adaptação, relações com os pares, desempenho escolar e equilíbrio emocional, pelo que, se for o caso, deve considerar a procura de ajuda de um psicólogo clínico.
Raquel Carvalho
Psicóloga Clínica
Equipa Mindkiddo – Oficina de Psicologia
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