Regra geral, quando um casal nos procura, já a convivência confortável está no limite do aceitável, e as discussões são frequentes e agressivas. No entanto, também existem casais que nos procuram no inicio dos seus problemas, quando ainda mantêm uma relação de abertura, de cooperação e de partilha suficientes para darem este passo (da terapia conjugal) em conjunto, para “não deixarem rabos de fora”.
Mas, afinal, quando deve o casal procurar ajuda na terapia conjugal?
“Quanto tempo leva o processo?” “Porque estamos cá?” “As nossas queixas são normais?” “As discussões são naturais?” “A nossa relação é normal?” “Estamos muito mal?”
Frequentemente os casais que atendemos na nossa prática clínica fazem todas estas questões durante as primeiras sessões. Tentam saber se as razões que os levaram até ali são normais, se o processo terapêutico irá resultar, se faz sentido tentarem continuar a relação e quais os resultados espectáveis.. Também frequentemente, tentam saber qual a origem dos seus problemas, a razão de ali estarem. Com estas questões surge também a dúvida se deveriam ter procurado ajuda antes.
A terapia conjugal não deverá ser vista como último recurso para salvar um relacionamento em vias de terminar. Deverá, isso sim, servir para reajustar formas de comportamento, de comunicação e de relação que se tornaram disfuncionais ou desconfortáveis para algum dos cônjuges, quando surgem as normais dificuldades de quotidiano. Essas dificuldades podem surgir logo no inicio da relação, porque são tão naturais como a rotina, a regulação dos tempos individuais, o nascimento dos filhos ou a divisão de tarefas domesticas. Podem também surgir devido a situações “excepcionais”, como a distância, o desemprego ou o stress laboral, a doença ou até o ciúme.
Depois de um período de paixão, de aproximação e de aceitação total, surgem naturalmente os períodos de reajuste da relação, de “regras” e limites que ambos desejam ver cumpridas ou com os quais se sentem mais confortáveis. Esta fase de reequilíbrio de expectativas é muitas vezes esquecido ou negligenciado, levando os cônjuges a, mais tarde, discutirem-nas de forma pouco racional ou de forma agressiva sobre pequenos pormenores ou problemas ligados a essas “regras” ou limites.
Estas discussões irracionais acontecem na grande maioria das relações. Se pensarmos que um casal envolve duas pessoas, potencialmente diferentes nas suas personalidades, educação e valores familiares, e na forma de comunicar, então qualquer relação deverá ser vista como um desafio.
Quando o casal procura da terapia conjugal tem, em muitas situações, o objectivo de criar uma comunicação apaziguadora, que resulte na diminuição das discussões mais frequentes, mantendo ambos os cônjuges de forma confortável, aceitando o outro e sentindo-se aceite.
Mas, quanto mais tardiamente essa procura for realizada, maior é um desafio para o sistema terapêutico.