Autor: Vanessa Damásio
Quando iniciamos uma relação, começamos uma viagem rumo à descoberta do outro e de nós mesmos. No começo surge o enamoramento, a paixão, que poderá fazer com que o outro seja visto de forma idealizada, mas com o tempo surge também a rotina, os defeitos e os pormenores que por vezes nos podem incomodar e que gostaríamos de mudar. Em todas as relações é necessário existir um ajustamento mútuo, uma partilha de experiências e uma constante readaptação, mas tal não significa que devemos querer mudar o outro, mesmo que seja para bem dele.
Querer mudar o outro implica que essa transformação seja imposta, e não decidida pelo próprio, o que por si só não constitui uma verdadeira mudança, mas sim uma obrigação, que pode causar uma postura defensiva e sentimentos de insuficiência, impotência e desvalorização. Mesmo alegando que é para o bem do outro, o “feitiço pode virar-se contra o feiticeiro”, a defesa afasta o casal e a as emoções que se desenvolvem perante a desvalorização podem ser a zanga, raiva e frustração.
Ao invés de querer mudar o outro, podemos adotar uma postura de expressão de necessidades próprias e não de crítica, e simultaneamente sugerir alternativas comuns, ajustando a nossa contribuição a favor do que o outro possa alcançar, numa proposta de caminho conjunta e em parceria.
Por vezes, vemos o outro como um espelho, e os detalhes que queremos transformar e que nos incomodam no nosso parceiro são questões muito nossas que podem estar reprimidas ou não resolvidas. Inicialmente dá-se uma fascinação pelos aspetos que o próprio não possui e uma atração pela diferença que parece colmatar a falta. Contudo, pode-se começar a sentir que essa diferença é demasiado grande, ao ponto de evidenciar as nossas próprias falhas, que acabam por se refletir na relação de casal e até na crítica constante do outro, para evitar a critica ao próprio. Neste sentido, será mais importante utilizar a energia despendida em mudar o outro, para observar mais o próprio e assim conectar-se com as suas necessidades mais íntimas e ocultas. Após esta descoberta e aceitação do self, pode-se então passar à comunicação genuína e respeitosa com o parceiro, de forma a expressar as suas emoções e necessidades, sem crítica, com valorização e acima de tudo, com amor!
A questão é muito pertinente, a sua compreensão seria de fundamental importância para o relacionamento dos casais. De momento estou a viver este problema, saber como lidar com comportamentos, femininos, que detesto. Dizer à outra pessoa para mudar sei que é perverso – iria apenas agudizar o problema. O que fazer, na certeza de que a capacidade das pessoas para a mudança é diminuta?
Já tentei: ignorar; discutir; evidenciar o absurdo. No fim, ironicamente, tudo pior do que no princípio . A psicologia feminina não tem lógica, depende de um sem número de estímulos quase sempre contraditórios.
Sem entrar numa visão machista do problema, uma vez que as minhas referências são as mulheres e não uma em especial, sou levado a pensar que um homem não pode estar (parecer) feliz junto a uma mulher. Tem, obrigatoriamente, de lhe fazer crer que dela depende o ar que respiram – recompensando-a generosamente por isso, com os mais diversos mimos. Mesmo assim é de esperar momentos de grande tensão, amuos sem o mínimo de razões visíveis.