Todas as fases de desenvolvimento do ser humano são especiais pelas suas idiossincrasias e pelas tarefas de desenvolvimento únicas que delas fazem parte. O cérebro está em grande desenvolvimento, com um crescimento neuronal acentuado nos cinco primeiros anos de vida, tornando particularmente relevantes para o desenvolvimento físico, emocional, social e cognitivo todas as experiências vividas nesse período.
A Infância é uma espécie de tubo de ensaio para as fases de vida subsequentes. Na infância experimentam-se, desenvolvem-se e treinam-se competências e recursos essenciais ao longo da vida – aprende-se a resolver problemas, toma-se contato com as emoções e aprendem-se formas de as gerir, experimentam-se diferentes papéis e treina-se a empatia, fazem-se aprendizagens sobre como funciona o mundo de forma progressivamente mais complexa… Experiências de vida e estratégias de ajustamento que vão moldando formas de ser, formas de estar, formas de sentir…
Infelizmente, por vezes, tendemos a ser pais demasiado apressados, sempre à espera de mais e mais conquistas. Achando imensa piada a ter “mini-adultos” em casa. Apressar a criança a “crescer” é roubar-lhe o direito a ser criança e a viver todas as etapas e tarefas próprias do desenvolvimento harmonioso. Apressar as crianças é gerar-lhe ansiedades. É “exigir-lhes” competências para as quais não estão, à partida, preparadas. É retirar-lhes as oportunidades de desenvolverem as competências típicas das várias fases de desenvolvimento. É, potencialmente, gerar frustrações desnecessárias. É desrespeitar a individualidade da criança. Apressar as crianças é, muitas vezes, impossibilitá-las de sonhar.
Como desacelerar? Obrigatório brincar! Muito! Em muitos sítios, de muitas formas, com diferentes companheiros de brincadeira, apelando aos cinco sentidos. Porque enquanto brincam as crianças crescem a um ritmo ajustado. Se os pais estiverem sintonizados emocionalmente com os seus filhos vão estar atentos às suas necessidades, momento a momento, e vão respeitando os ritmos da criança. E há experiências que deviam ser obrigatórias na infância. Tantas! Saltar em poças de água, ler livros com os pais, pintar com as mãos, subir escorregas ao contrário, conviver com a natureza, “lamber” a colher do pau com o resto da massa que se acabou de por no forno, trepar a uma árvore, sujarem-se…
Alimentemos sempre a vontade de brincar, a curiosidade e a espontaneidade das crianças. Enquanto adultos não deixamos de procurar a novidade, a descoberta e o prazer associado. Ao brincar, mesmo enquanto adultos, encontra-se o prazer: da resolução de problemas, das relações e, claro, da criatividade. Todos nós a determinada altura da nossa vida brincámos, mas com o passar dos anos e com as exigências do mundo, acabámos por nos esquecer da liberdade e da sensação de felicidade que o brincar proporciona. Para além disso, à medida que crescemos vamos dando cada vez menos valor à brincadeira. O importante é haver um constante reinventar de formas de brincar, quer na relação entre adultos e crianças, como mesmo entre os próprios adultos.
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