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Autor: Margarida Marcão

Num estudo*, no qual os participantes tinham que anotar regularmente ao longo de vários dias os seus níveis de calma e de energia em diferentes momentos do dia, observou-se que um mesmo problema pessoal era avaliado como mais severo à tarde do que de manhã. No mesmo estudo, verificou-se ainda que os participantes consideravam o seu problema como menos difícil de resolver após terem efectuado uma caminhada rápida de dez minutos. Em ambos os casos verificou-se que as avaliações mais positivas dos problemas correspondiam a níveis mais elevados de energia e de calma.

Em geral, ao fim da manhã, os nossos níveis de calma e de energia estão no seu auge. Pelo contrário, ao fim do dia, temos uma acumulação de tensão (menos calma), e também menos energia (a fadiga começa a fazer-se sentir).

Mas como é que estes estados do corpo influenciam os nossos estados de ânimo? A resposta a esta pergunta prende-se com a tendência que temos a inferir a nossa energia futura a partir da nossa energia actual. Assim, nos momentos em que nos sentimos em plena forma, antecipamos que poderemos resolver todo um amontoado de problemas. “Bring it on! “ É esta ideia, ao jeito de super-herói entusiasmado e cheio de energia que, por vezes, nos faz aceitar projectos que vão em seguida, quando a fadiga se instalar, parecer-nos muito pesados. De facto, se tivessem sido propostos num período em que nos sentíssemos exaustos, muito provavelmente te-los-íamos recusado. Se os nossos estados do corpo sofrem oscilações, os nossos julgamentos – que pensamos por vezes serem apenas racionais e não biológicos – também oscilam!

Estas previsões baseadas nas nossas sensações do momento (affective forecasting) desempenham um papel muito importante na forma como encaramos as situações que nos surgem no dia-a-dia: se nos sentimos fatigados ao executar uma tarefa, iremos mais facilmente ter tendência a anticipar que não a conseguiremos desempenhar, pensando que estamos a fazer uma avaliação racional da situação, quando simplesmente não a conseguiremos desempenhar facilmente no estado em que nos encontramos no momento presente.

O que fazer então para que os estados de energia e calma sejam mais frequentes? Os investigadores concluíram que para nos sentirmos bem temos que respeitar duas necessidades naturais: comer e dormir. Se não respeitarmos estas duas necessidades, o nosso corpo queixar-se-á muito rapidamente. Existem ainda outros dois factores: mexer-se e relaxar-se. A negligência da prática de exercício físico e de relaxamento não é punida tão rapidamente como a da alimentação e do sono, mas lentamente perturba o equilíbrio emocional e, portanto, os nossos estados de ânimo.


* Thayer R. E., «Problem perception, optimism, and related states as a function of time of day (Diurnal rhythm) and moderate exercise: Two arousal systems in interaction», Motivation and Emotion, 1978, 11, p. 19-36.