João e Rita são um casal de cerca de cinquenta anos que estão casados há trinta. O João é um homem calmo, muito caseiro e bondoso para com a Rita. Ela tem um carácter forte; gosta de sair e queixa-se constantemente de que a sua única saída consiste em ir almoçar a casa da mãe ao fim-de-semana.
Num Sábado, a Rita propõe irem ao cinema, mesmo sabendo que o marido não gosta de sair ao fim-de-semana. Ele fica incomodado perante a proposta mas não o mostra. Como é seu hábito, aceita a ideia da mulher sem levantar objecções, apesar de querer ver um jogo na televisão.
Quando estão quase a sair, ele diz-lhe, naturalmente, que tem de regressar cedo a casa porque na manhã seguinte vai pescar com um amigo. Perante isso, ela zanga-se, como ele previa, por ele não poder estar presente no habitual almoço de fim-de-semana com a família. Com isto discutem e, assim, já não faz sentido irem ao cinema.
Ela vai para a cama zangada mas João, muito calmo, senta-se satisfeito em frente à televisão para ver o jogo.
Sabemos que existem várias formas de expressar a irritação ou a fúria numa relação, como os gritos, a violência e os insultos. No entanto, há uma forma muito mais subtil e difícil de detectar que se utiliza constantemente, com frequência sem se ter a menor consciência de que o estamos a fazer: a sabotagem.
Se analisarmos a situação acima descrita reparamos que o marido se irrita perante o que considera egoísmo por parte da mulher. Ela sabe perfeitamente que ele não gosta de sair ao sábado, mas mesmo assim faz uma proposta. Com isto, em vez de iniciar uma discussão por causa disso, opta por ficar calado e, aparentemente concorda. Contudo, conhecendo o carácter da Rita, ele sabe que a deixará irritada com o facto de ele não poder estar presente no almoço; que será ela a iniciar a discussão e a culpada, por fim, de não irem ao cinema.
E se a Rita tivesse controlado a sua irritação? O que aconteceria? Estas situações são muito comuns na vida de casal. São situações que não são determinadas, pois quem faz sabotagem, na maior parte das vezes, nem sequer está consciente da sua atitude. Quando convivemos por um determinado tempo com uma pessoa, sabemos perfeitamente o que dizer ou fazer para a irritar e fazemo-lo com frequência. E com isto, desviamos a nossa própria irritação ou incómodo em vez de os abordarmos serena e explicitamente.
Detectar este tipo de hábitos é fundamental para manter uma relação saudável e só se pode ver com clareza cada um deles quando se está consciente, pelo menos, das próprias emoções e se compreende empaticamente as do companheiro.
Se ela tivese ido ao cinema sozinha sem o ter convidado, garanto que em três tempos essa mulher passava a ter marido que a acompanhasse de vez em quando. A questão é que, a maioria das mulheres portuguesas não tem vida própria interesses próprios e aí eles perdem o interesse em sair com elas porque as tomam como “favas contadas”.
Boa matéria!
Bjs