Em primeiro lugar precisamos de saber o que é afinal a Resiliência…
Como muitos dos conceitos que nascem no meio científico e passam a fazer parte da nossa linguagem quotidiana, será importante começar por clarificar em que consiste a resiliência.
De entre a multiplicidade de definições que podemos encontrar, consideremos a resiliência como o desenvolvimento normal sob condições difíceis ou como a capacidade humana para uma adaptação saudável mesmo perante riscos e adversidades.
Uma dimensão importante a considerar é formada pela conjugação dos conceitos de “ambiente protector” e “ambiente adverso” e permite-nos classificar o leque de ambientes possíveis e acontecimentos de vida como uma ajuda ou “desajuda” para o desenvolvimento da criança. Exemplificando, o crescimento num contexto de pobreza pode ser considerado como um ambiente adverso, ao passo que ter estabelecido relações seguras de vinculação é considerado como um ambiente protector.
Os factores promotores da resiliência podem ser encontrados em três níveis ecológicos: criança, relações familiares e comunidade alargada. Ao nível individual correspondem, por exemplo, atributos temperamentais e disposicionais – algumas crianças são mais intrinsecamente resilientes do que outras(a título exemplificativo, um temperamento “fácil” é normalmente associado com resiliência na infância); à família próxima ou relações que se substituam às familiares, uma base segura, previsível e disponível; à comunidade alargada, corresponde o suporte extrafamiliar, o ambiente externo à criança, fora da família e na comunidade. Estes três níveis de factores permitem compreender as diferenças inter-individuais no que respeita à resiliência, sendo que um incremento nos factores de protecção terá obviamente repercussões positivas ao nível da resiliência da criança.
São estes “factores protectores”, localizados em todos os níveis do ambiente social ecológico da criança,que possibilitam o aparecimento de resultados positivos, apesar das adversidades enfrentadas, que estão relacionados com o bem-estar social e emocional a longo prazo e explicam a maior facilidade que algumas crianças têm em lidar com os acontecimentos de vida adversos.
Parece ser hoje consensual que, apesar da multiplicidade de factores que podem ser associados à resiliência, existem três “blocos” fundamentais sob os quais todos os outros factores se erguem:
1. Uma base segura, que remete para a qualidade das vinculações precoces, através da qual a criança experimenta um sentimento de pertença e segurança;
2. Uma boa auto-estima, que se refere a um sentido interno de valor e competência;
3. Um sentido de auto-eficácia – mestria e controlo – bem como uma compreensão precisa das forças e das limitações pessoais.
Outros autores propõem uma conceptualização da resiliência em seis dimensões da vida da criança, que contribuem para estes três “blocos de base”:Base Segura, Educação, Valores Positivos; Talentos e Interesses; Amizades; Competências Sociais.
Dentro de cada um destes seis domínios, em cada um dos três níveis ecológicos (criança, relações familiares e comunidade alargada), existem factores que contribuem para o nível de resiliência e vulnerabilidade das crianças, sendo que todos eles podem ser alvo de trabalho e intervenção, de forma isolada ou, preferencialmente, estabelecendo sinergiasnos diversos contextos em que a criança se move – família, escola, intervenção psicoterapêutica, etc..
Na medida em que a resiliência se associa a bons resultados a longo prazo, pode constituir-se como uma ferramenta muito útil na abordagem a crianças que passaram por vivências mais penosas, tais como abusos ou negligências.
Crianças mais resilientes serão adultos mais positivos e auto-confiantes, mais proactivos, mais corajosos e mais flexíveis quando confrontados com situações inesperadas e no estabelecimento de relações interpessoais. Os processos de mudança serão geridos com mais sucesso e serão pessoas capazes de retirar o melhor de cada situação, num processo de aprendizagem contínua.