Você já reparou que as pessoas estão com medo de começar uma relação?
Talvez porque, num mundo cheio de incertezas (crises econômicas e sociais, competição desenfreada, violência urbana, aquecimento global, e muitos etcéteras) estamos sempre em busca de um lugar seguro, e tendemos a fugir de tudo o quanto pode representar qualquer ameaça.
Por trás de nossos óculos escuros/ vidros fechados/ portões trancados, criamos ‘conchas’ protetoras comportamentais: evitando intimidade e envolvimentos, nos relacionamos superficialmente, temos mais conhecidos virtuais que amigos verdadeiros, e nosso ponto de encontro favorito é o WhatsApp; por ele comunicamos nossos interesses e sentimentos ao mundo, sem nem precisar usar palavras – temos os emojis. Não gostou? Bloqueia. Gostou? Dá um like. Gostou muito? Vira seguidor no Insta e no Face.
Tá solteiro? Entra no Tinder, no Happn, no Grindr…Mas é só pegação, ok? Sem compromisso!
Neste contexto, os relacionamentos afetivos acabam por se sustentar em jogos psicológicos subliminares, uma espécie de competição perde- ganha, em que o vencedor é aquele que parece se importar menos com o outro.
Por esta nova ‘ética’, a regra diz que, se por exemplo ele demora a responder sua mensagem, você também deve demorar para responder; assim não vai parecer que está tão interessada e disponível que olha o celular de minuto em minuto, certo? Assumir um namoro, só depois de meses ‘ficando’, e mesmo assim, deixando sempre aberta a ‘saída de emergência’. Nos fazemos de difíceis só para testar se a outra pessoa vai se esforçar o bastante; nós mesmos não entendemos direito por que o fazemos.
O medo de se entregar, se comprometer e decepcionar acaba criando um tipo de covardia amorosa, onde os relacionamentos, incipientes, delimitados a um espaço de controle, terminam com um deixando a vida do outro sem saber de sua importância e significado durante o tempo em que estiveram juntos.
Ao despender tanta energia nestes jogos de ‘fingir que não liga’, de ‘fazer a fila andar’, estamos nos esquecendo de uma realidade fundamental: como humanos, precisamos sim de nos envolver, de arriscar, e encarar constatação de que, afinal, faz muito bem se dedicar por inteiro ao outro, sair de mãos dadas por aí, e viver uma relação de verdade.
Ísis de León
Psicóloga da Oficina de Psicologia Brasil
(31)3284-8703
belo.horizonte@oficinadepsicologia.com
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