Sou ansioso(a). O meu filho(a) também vai ser?
Múltiplos fatores podem contribuir para o desenvolvimento de um problema de ansiedade, que variam de criança para criança, de família para família. Será a ansiedade dos pais determinante na ansiedade dos filhos?
Conhecem-se as causas hereditárias, que resultam de material genético transmitido de geração em geração, e fatores do meio. É frequente em consulta de psicologia clínica ouvirmos os pais dizerem “o meu filho é ansioso, acho que sai a mim!”. Será a ansiedade um problema de família? Os estudos científicos têm provado que existe um riscomaior de filhos de pais ansiosos desenvolverem problemas de ansiedade. Segundo uma investigação da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, mais de um terço dos familiares diretos das crianças com perturbações de ansiedade também as têm. Esta probabilidade só é elevada com familiares diretos (aqueles com quem vivem) e não com familiares afastados. Neste sentido, verifica-se que a carga genética não é o único fator-chave, mas que há também um componente de ansiedade que é aprendida no meio. Será maior a probabilidade de a criança aprender reações emocionais por observação e imitação dos comportamentos verbais e não verbais dos parentes ansiosos. Além disso, estes podem reforçar os medos das crianças involuntariamente, através da forma como lhes reagem.
Atenção, isto não significa que se sofre de alguma perturbação de ansiedade, os seus filhos as desenvolvam. Uma investigação da University of Connecticutreforça que é possível quebrar o ciclo de ansiedade familiar, em que através de uma intervenção familiar, os pais conseguem criar filhos calmos e ajudá-los a ultrapassarem os desafios.
Também os estilos de educação parental, mesmo com as melhores intenções para os filhos, podem ter grande influência no desenvolvimento de problemas de ansiedade nas crianças. Uma educação superprotetora (por exemplo, quando a criança não pode ir a visitas de estudo, sair com os amigos, dormir fora de casa, praticar determinado desporto, ao contrário dos colegas da mesma idade, mesmo quando existem condições de segurança adequadas e supervisão de adultos); ou uma educação supercrítica, nos quais os progenitores se focam excessivamente nas falhas da criança e criticam muito mais vezes do que elogiam. Que tal refletir sobre o seu estilo parental?
Existem também situações que as crianças vivenciam que podem desencadear problemas e até perturbações de ansiedade, nas quais se incluem:
- Episódios traumáticos: acidente de carro, maus tratos físicos, catástrofes naturais, assaltos, guerra…
- Episódios de vida causadores de stresse, tais como: divórcio dos pais, doença de um familiar, mudança de casa ou de escola. Ou até situações menos óbvias: pais emocional ou fisicamente indisponíveis, pais que viajam com frequência, rejeição por parte dos pares, nascimento de um irmão, alteração de situação financeira, etc..
Quanto mais negativas forem as experiências da criança durante o seu crescimento, maior a probabilidade de vir a sofrer com a ansiedade na idade adulta.
Adicionalmente, alguns problemas médicos (por exemplo, hipertiroidismo), alguns medicamentos, bem como a ingestão de bebidas com cafeína (exemplos: Coca-cola/Pepsi, Ice-tea, café) podem contribuir para o desenvolvimento sintomas ansiosos nos mais novos.
Retomando a questão inicial, se é uma pessoa ansiosa isso não significa que o seu filho também será. Em todo o caso, a ajuda profissional pode ser útil tanto para si, que é ansioso, como para o seu filho que beneficiará em desenvolver, conjuntamente com um psicólogo clínico infantojuvenil, estratégias de gestão emocional.
Raquel Carvalho
Novas Famílias, Desafios Novos
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