Acredito que ao ler estes dois conceitos na mesma expressão lhe venha à mente uma imagem dum adolescente agarrado ao telemóvel, com uns enormes auscultadores na cabeça e sem comunicar verbalmente com a família à sua volta, numa qualquer refeição lá em casa. Pobre coitado deste adolescente, sem futuro social, que não saberá comunicar com outras pessoas e acabará deprimido num qualquer quarto escuro a jogar PlayStation…
Agora olhemos de outra forma para a tecnologia!
Na prática clínica, especialmente com famílias, frequentemente se comenta o contacto com avós, tios, primos ou amigos que estão noutra cidade ou até noutro país, utilizando as novas tecnologias.
Esta é uma nova realidade, permitida pela inovação tecnológica e pelas novas formas de comunicar, que nos permite estarmos mais próximos dos que estão longe. E isso tanto faz por nós, como pelos que estão mais longe.
Por exemplo, estudos recentes demonstram que a tecnologia tem ajudado, especialmente na população mais idosa, a evitar ou a lidar melhor com a depressão. E aqui entramos num novo mundo, exploramos um novo paradigma de comunicação, de observação, contacto social e até científico. Estes estudos mostram que as melhorias devem-se ao contacto mais frequente com outras pessoas de referência, mas também com a maior exposição a técnicas terapêuticas e a tecnologias de monotorização e avaliação de sintomas. A tecnologia ao serviço do indivíduo, das famílias e da ciência.
Segundo a edição de Junho de 2019 da International Journal of Mental Health Nursing, a terapia por telefone ou videoconferência tem potencial para melhorar a saúde mental entre os idosos. Este impacto significativo na melhoria da saúde mental inclui redução das visitas às urgências, admissões hospitalares, e sintomas depressivos, tal como a melhoria do funcionamento cognitivo.
Começamos assim a olhar para as novas tecnologias como uma coisa mais séria, com um potencial associado à saúde e bem-estar, e não apenas gadgets fúteis ou desnecessários.
Utilizando a tecnologia para monitorização, auto-avaliação de sintomas, realização de exercícios terapêuticos e para a estimulação cognitiva, os resultados tendem a ser muito promissores e positivos. Estes avanços tecnológicos incluem até a existência de comunidades terapêuticas on-line. Assim, a inovação tecnológica pode ser parte da solução para a saúde mental, para o combate ao isolamento e não um problema que nos afasta uns dos outros.
Desde há muito que a tecnologia auxilia a terapia, como por exemplo o uso da realidade virtual para lidar com o Stress Pós Traumático ou a fobia, utilizando a terapia por exposição.
No final, a tecnologia tem muitos usos positivos, que vão muito além das redes sociais.
Cabe-nos a nós, enquanto terapeutas, investigadores, comunidade científica no geral, utilizarmos todo o seu potencial, especialmente para a prevenção e estudo das doenças mentais. Tudo depende do que nós fazemos com a tecnologia.
Caberá às famílias fazerem o mesmo esforço, usando a tecnologia para estreitar ligações, para promover o bem-estar e o contacto familiar e social que, mesmo sendo virtual, tem os seus benefícios cientificamente comprovados para a saúde mental.
No final, temos que fazer com que a tecnologia nos traga exactamente o mesmo que procura o adolescente: uma maior liberdade, uma socialização facilitada com quem não está ao nosso lado, um rápido acesso à informação e maior contacto com coisas que nos dão prazer.
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SOu gay
kkkkkkkkkk
Muito bom
Artigo muito simples mas directo, útil e com linguagem acessível. Está bem.
Comunicar com os adolescentes
A família é um sistema em constante movimento. Crescemos, amadurecemos, envelhecemos, mudamos [...]