No filme O Exterminador do futuro, Arnold Schwarzenegger é um androide que volta de um futuro distópico, para matar a mãe de um garoto que um dia será o líder da resistência contra as máquinas. O androide escaneia o ambiente através de suas câmeras, identificando objetos, pessoas e situações; seu processador analisa os dados e orienta a tomada de decisões, na busca de seus objetivos. Este sistema, que parece tão futurista, é na verdade uma boa metáfora para o que acontece com os seres humanos: nossa intuição funciona exatamente assim.
Todos os dias, nos deparamos com intuições que parecem fornecer respostas às questões práticas da vida. Por exemplo, você já teve aquela sensação de ‘eu sabia’ quando algo de imprevisto acontece? Ou quando você conhece alguém, e instantaneamente percebe que tipo de conexão vocês vão estabelecer?
Enquanto o senso comum diz que devemos “confiar em nossa intuição”, sabemos que não pode ser tão simples. Certamente há momentos em que a intuição nos guia com precisão, e outras vezes, quando nos engana. Mas como vamos distinguir a diferença?
Para responder a essa pergunta, precisamos, primeiro, desmistificar a intuição e entender como ela funciona. Veremos que o processo que nos proporciona esses sentimentos instintivos, enquanto na superfície parece simples e banal, é bastante complexo e sofisticado.
Como no filme, os seres humanos estão constantemente analisando seu ambiente, tentando detectar situações familiares. O cérebro processa continuamente as informações coletadas, analisando, arquivando e comparando com padrões já estabelecidos.
Segundo Gary Klein, em “ As Fontes do Poder – Como as pessoas tomam decisões”, diante de uma situação nova, nosso cérebro analisa quatro tipos de informação:
- as questões relevantes específicas ao caso;
- as possíveis expectativas inerentes a ele;
- os objetivos propostos pela situação,
- e que ações seriam mais adequadas ao momento.
O mais interessante é que este processo ocorre em frações de segundos, e decisões são tomadas antes de termos tempo de elaborar. É como se a ação fosse orientada pelo corpo, e não pelo raciocínio. Por isto mesmo, o termo “Intuição” é descrito em inglês como “Gut Feelings” (sentimentos viscerais).
A intuição vem dos padrões que identificamos em nossas experiências passadas. Desde o momento em que nascemos, buscamos constantemente padrões em nosso ambiente. Por exemplo, vemos 2 + 2 consistentemente emparelhados com o número 4. Observamos que os animais manchados e de pescoço longo são chamados de girafas. Aprendemos que cada vez que alguém – nossa mãe, nosso pai, nosso cônjuge, nosso chefe – diz “precisamos conversar”, o que geralmente segue nunca é uma boa notícia.
Esses padrões, uma vez identificados, ficam armazenados em nossa memória de longo prazo. É como se os dados captados fossem preenchendo uma planilha de Excel gigantesca e, a cada vez que detectarmos um padrão (ou algo parecido), nosso cérebro o encontra na planilha e nos entrega os dados correspondentes.
E agora que nós entendemos de onde vem a informação por trás das nossas intuições, permanece a questão central: quando podemos confiar nelas?
Você pode confiar na sua intuição?
Daniel Kahneman e Gary Klein, dois dos principais estudiosos da intuição, escreveram no artigo “Condições para a Experiência intuitiva”, que a resposta não está contida nas próprias intuições. Elas vêm com o que Kahneman chama de ilusão de validade: um sentido subjetivo – que pode muitas vezes ser enganador – da verdade.
Eles propõem que, para avaliar a confiabilidade de uma intuição, devemos observar a pessoa e o ambiente em que ela opera. E que, para confiar na nossa intuição, precisamos ter tido bastante prática; nossas intuições são tão boas quanto o nosso banco de dados. Portanto, precisamos ter experiência suficiente para perceber e revisar padrões de referência confiáveis. O ambiente é importante na medida em que fornece padrões consistentes de previsibilidade. Por exemplo, um bombeiro pode perceber rapidamente os sinais de um risco de incêndio – sons, cheiros, etc – com base no seu repertório de atuações em locais de incêndio.
A intuição é um processo altamente sofisticado. Observamos padrões através de experiências passadas, armazenamos esses padrões e informações associadas na memória de longo prazo e, em seguida, recuperamos a informação quando percebemos esses padrões novamente em nosso ambiente. É um processo de reconhecimento. Isso significa que é provável que tenhamos intuições confiáveis em certos domínios e não em outros.
Pense nas suas intuições como um GPS e o mundo como uma vasta terra pontilhada com um sinal de intensidade variável. O GPS funciona perfeitamente onde o sinal é forte e é enganoso onde há interferências (ambientes desconhecidos, preconceitos, fantasias, etc). Portanto, se deseja afiar a sua intuição, a ciência recomenda: pratique bastante, questione seus preconceitos, e fique atento ao seu ambiente.
Isis de León, Psicóloga da OP Brasil
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