Autor: Inês Carvalho
A chegada de um novo membro à família é, naturalmente, um momento de adaptação e reestruturação da dinâmica familiar. Se, a nível externo, se impõem questões como a reorganização dos espaços da casa ou do orçamento familiar, também a nível interno surgem dúvidas e incertezas na adaptação a este novo momento. Há, inevitavelmente, uma reorganização da forma como os diferentes elementos se relacionam. São novos papéis e novos laços que se criam.
Pensemos numa mãe, num pai, num filho ainda pequeno (algures entre os três e os sete anos, ou talvez entre os dois e os oito).
Uma mãe que, naturalmente, já conhece a experiência da maternidade. Mas uma mãe que se prepara para um novo momento em que a barreira entre o conhecido e o desconhecido é tão ténue… Um pai que, também ele, já conhece a experiência da paternidade. Mas, também ele procura o seu “lugar” neste novo momento. Pensemos num casal que, após sucessivas mudanças na sua relação, se prepara agora para mais uma. E um filho. Um filho que até agora foi filho único (ou devemos dizer o único filho? – talvez nenhum filho deva deixar algum dia de ser único). Este filho que é pequeno, mas não tão pequeno, já. Que precisa de suporte, mas que já vai dando os seus primeiros passos no processo de autonomização.
Enfim…, uma família que pensa e se pensa. Que sente e se sente.
Que desafio familiar…!! E se não conseguirmos pensar em tudo isto? Ou se pensarmos tanto que a ansiedade nos possa impedir de viver este momento?
De facto, é uma fase de mudança e o sair da zona de conforto pode gerar alguma ansiedade.
Tentamos, agora, compreender a ansiedade do mais pequeno.
Comecemos por pensar que a forma como a criança manifesta a sua ansiedade poderá não ser clara. São fases de desenvolvimento mental e emocional diferentes que, em algumas situações, se traduzem em formas diferentes de comunicar. Podem, assim, surgir as birras, as dificuldades em adormecer ou alimentar-se sozinho, o mau comportamento na escola ou a agressividade como meios de expressão emocional.
Mas, se pararmos um pouco para procurar o significado destes comportamentos, talvez nos deparemos com o sentimento de ansiedade da criança. Será este o primeiro passo para podermos tranquilizá-la.
É natural que esta criança precise de ajuda para se adaptar a esta nova fase. E é possível fazê-lo de forma muito “simples”.
Será importante criar um tempo para atividades em família. Um tempo em que a criança se sinta querida pelos seus pais, e em contacto com o novo irmão que aí vem. É essencial que a criança sinta que as suas rotinas irão mudar, mas que o amor que os pais sentem por ela se mantém intacto.
Outro aspeto importante será trabalhar a noção de temporalidade desta criança. Pode ser que a criança se sinta perdida entre ser o mais velho e ser pequenino e tenha dificuldade em encontrar o seu papel nesta nova família. Aqui, poderá ser importante contar à criança a sua história. Recorrendo a fotografias da família ou vídeos, o mais velho poderá perceber que também ele já foi muito pequenino.
Enfim…, talvez possamos pensar em dois aspetos essenciais: o afeto e a segurança.
E estes aspetos não serão transversais?