A automutilação (AM) é definida como qualquer comportamento, intencional, envolvendo agressão direta ao próprio corpo, sem intenção suicida e por razões não socialmente ou culturalmente compreendidas. Esta definição exclui tatuagens, perfurações e danos não-intencionais ao próprio corpo.
As formas mais frequentes de automutilação são cortar a própria pele, bater em si mesmo arranhar-se ou queimar-se. Essas lesões podem variar de superficial a moderada, mas em geral não há intenção em provocar a própria morte ou lesões graves com esse tipo de ferimento.
A automutilação é, geralmente, uma maneira expressar ou lidar com uma angústia esmagadora ou aliviar uma tensão insuportável; às vezes, pode ser uma mistura de ambos. A auto-agressão também pode ser um grito de socorro.
A AM é mais comum do que pensamos, especialmente porque as pessoas que se machucam costumam esconder seus ferimentos por vergonha ou medo. Embora possa acontecer em qualquer etapa da vida, é mais comum na adolescência. Em torno de 10% dos jovens relatam ter se envolvido em algum comportamento autolesivo pelo menos uma vez em sua vida. Esse número é, provavelmente, subestimado, já que – como foi dito – a maior parte das pessoas que praticam AM não relata à ninguém. Em pesquisas com amostras na comunidade, a AM ocorre tanto em homens como mulheres; já em amostras clínicas – aquelas colhidas em centros de tratamento médico ou psicológico – a maior parte são mulheres.
Por que as pessoas se machucam?
Na maioria dos casos, as pessoas se machucam para ajudá-las a lidar com questões emocionais insuportáveis, que podem ser causadas por:
Problemas sociais – tais como ser intimidado, ter dificuldades no trabalho ou na escola, ter relacionamentos difíceis com amigos ou familiares, entrar em acordo com a sua sexualidade (homo ou bissexualidade) ou lidar com expectativas culturais, como um casamento arranjado;
Trauma – como abuso físico ou sexual, a morte de um familiar ou amigo próximo, ou ter um aborto;
Causas psicológicas – repetidos pensamentos negativos e depreciadores, sentimentos difíceis (por exemplo, angústia, ansiedade, stress, tristeza), episódios de dissociação (perder o contato com quem você é ou seu ambiente).
As pessoas que se automutilam geralmente tem sentimentos intensos de raiva, culpa, desesperança e baixa autoestima. Todos os estudos que examinam as causas para a AM encontraram fortes evidências de que ela é usada para regular emoções aversivas. Ou seja, geralmente a pessoa experimenta uma emoção negativa e se machuca, o que proporciona uma sensação de alívio.
A AM tem sido frequentemente associada ao transtorno de personalidade borderline (TPB). No entanto, um crescente número de pesquisas indica que, embora muitas pessoas que têm um diagnóstico de DBP se autoflagelam, um grande número de indivíduos que praticam AM não tem um diagnóstico de TPB.
A autoagressão pode estar ligada à ansiedade e à depressão. Essas condições de saúde mental podem afetar pessoas de qualquer idade.
O abuso de substâncias também está em uma das causas de AM. Ao usar uma droga a pessoa até pode inibir o contato com a emoções negativas (que diminuiria a necessidade de se flagelar), mas também aumentar sua impulsividade e levar a uma maior probabilidade de se ferir.
Finalmente, os indivíduos com transtorno de estresse pós-traumático (PTSD) podem ser propensos a se envolver em AM como um meio de lidar com o estresse traumático.
Conseguindo ajuda
Já que a AM pode ter muitas causas, uma avaliação consistente é necessária para garantir que a pessoa que se fere encontre tratamento adequado para seu sofrimento.
Como a AM é frequentemente usada como um mecanismo para lidar com pensamentos e sentimentos negativos, o tratamento normalmente envolve ter um terapeuta para aprender a nominar e expressar seus pensamentos e sentimentos difíceis e aprender formas saudáveis e adequadas de lidar com eles, podendo assim melhorar sua autoestima e bem-estar.
As linhas mais comuns para tratamento da AM
Terapia Comportamental Cognitiva (TCC): busca desenvolver no cliente estratégias mais adaptadas para reagir ao estresse mental, assim como modificar estilos de pensamentos negativos que podem perpetuar a AM.
Terapia comportamental dialética (TCD): a TCD é uma forma avançada de CBT. Além de trabalhar com os pensamentos distorcidos, inclui um reforço da regulação emocional e promove estratégias adaptativas de enfrentamento, que incluem:
- Mindfulness: Promove a capacidade de permanecer no presente, diminuindo a ruminação e auto-julgamento, promovendo a consciência momento a momento. Isso permite que o cliente deixe de lado sentimentos negativos.
- Capacidade de tolerar emoções negativas ou aflições, com foco em habilidades para gerenciar situações estressantes.
- Regulação emocional: o foco é nas emoções experimentadas, procurando processar ou modificar as próprias reações emocionais. Além disso, isso pode incluir ensinar aos clientes como lidar com angústia no momento através de técnicas de distração.
- Eficácia interpessoal: visa ajudar o cliente a melhorar sua comunicação e interação com os outros, incluindo a comunicação de experiências emocionais.
Farmacêutica Terapêutica:
O tratamento farmacológico não demonstrou eficácia como tratamento isolado para AM. Em geral, a medicação pode ser prescrita para tratar uma doença psiquiátrica associada (por exemplo, depressão maior, ansiedade, etc). Em alguns casos, isso pode resultar em redução dos sintomas de AM e devem sempre ser associadas a um tratamento psicoterápico.
Maus exemplos
Celebridades como a atriz Angelina Jolie e a cantora Fiona Apple já declararam que costumavam se cortar na adolescência. Na internet, em chats e grupos de discussão, jovens trocam informações sobre a prática. Muitos filmes recentes abordam o assunto. Tudo isso contribui para que os cortes estejam mais aparentes, dizem os médicos.
“Os adolescentes estão ouvindo falar disso e querem experimentar, assim como gostam de testar outros comportamentos de risco”, afirma a canadense Nancy Heath. Mas o acesso à informação que o jovem tem hoje pode ser usado para o mal ou para o bem, ressalva a psicanalista Mônica do Amaral, 48, professora de psicologia da educação da USP. “O cutting pode ser glamourizado, mas é difícil alguém se cortar só para seguir uma moda ou fazer parte da turma”, afirma.
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