A personalidade é imutável?
A personalidade é definida como uma conjugação estável e duradoura de características, ou seja, comportamentos, estilos de pensamentos, vontades e padrões emocionais. É uma configuração de características que definem o ajustamento daquela pessoa ao seu contexto. São as características da pessoa que ajudam até a prever como a pessoa irá reagir perante determinada situação. Estas características são determinadas por factores genéticos, fases da vida, experiencias marcantes, identificação com pares, valores, papeis desempenhados e aspectos culturais.
O modelo teórico mais utilizado que serve para descrever a personalidade é o modelo dos cinco factores, que trazem dimensões que podem ser vistas como um continuum:
- neuroticismo (vs. estabilidade emocional);
- extroversão( vs. introversão);
- abertura (vs. resistência) à experiência;
- amabilidade (vs. antagonismo);
- conscienciosidade (vs. ausência de orientação)
Se já leu alguma coisa sobre tipos de personalidade, provavelmente identifica-se com vários estilos, quase a ponto de não saber já bem qual é mesmo o seu, embora talvez um seja dominante. Segundo a teoria dos traços, a personalidade de cada um varia numa destas dimensões, e é o conjunto destas variações que faz com que sejamos únicos.
Mas se o senso comum nos diz que a personalidade é algo imutável, a ciência diz-nos que não. Embora se associe o desenvolvimento da personalidade à infância e adolescência, notou-se que a maior mudança verifica-se nos jovens adultos. Algumas mudanças podem contribuir para este facto: mudança da família de origem para a família de destino, tornam-se membros activos da comunidade, saem do percurso regular de ensino para uma escolha de carreira.
Existem algumas mudanças que são consideradas normativas ao longo da vida. Características relacionadas com a extroversão e abertura à experiência vão perdendo a sua dominância ao longo do percurso de vida. Enquanto a auto-confiança, controlo, e estabilidade emocional vão ganhando relevância.
Por isso algumas mudanças vão ocorrendo naturalmente da maturidade, mudanças essas que naturalmente tão são muito individuais, por casa experiencia de vida é única. Acontecimentos impactantes na vida, traumáticos ou não, como morte de alguém próximo, casamento, divórcio, mudança no emprego (nova carreira ou desemprego), emigração, nascimento de filhos podem ser mais precipitantes da mudança.
Mas mesmo que isto tudo não aconteça, mais de metade das pessoas já pensou que gostaria de mudar um traço dominante na sua personalidade. Quanto mais essa característica é vincada, mas esse desejo aparece. Normalmente, são relatados desejos de aumentar o nível de extroversão, de agradabilidade e de estabilidade emocional. E se os estudos mostram que a satisfação com a vida tem mais a ver com as diferenças individuais, cerca de 35%, e menos com rendimento, emprego ou estado civil (entre 1 a 4% cada uma), então não tem de ficar sempre assim que nem a Gabriela da modinha.
Mudar é uma opção viável. E essa insatisfação com a vida, mal-estar podem ser os motivadores internos para a mudança. Sabia que um processo de psicoterapia também pode contribuir para a alteração de traços de personalidade? A visão que temos de nós pode ser alterada, as nossas necessidades também, e muitas vezes a adaptação a diferentes contextos assim o exigem.
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