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Após um processo terapêutico espera-se que a resiliência surja como produto do trabalho psicoterapêutico. O que é então a resiliência? É uma resposta adaptativa a situações de trauma. Importa aqui relembrar que trauma, na “linguagem EMDR”, não se refere apenas a grandes traumas. Trauma é uma qualquer situação perturbadora cujos efeitos negativos se fazem sentir ao longo do tempo. Isto inclui situações desde violações ou guerras, que se consideraria um grande trauma, até divórcios ou episódios de embaraço ou humilhação, que eventualmente se consideraria um pequeno trauma.

Sendo então uma resposta adaptativa a uma situação de trauma, provavelmente os mecanismos subjacentes ao desenvolvimento da resiliência poderão ser compreendidos através do modelo de processamento adaptativo da informação. O que nos diz, então, esta forma de compreender o processamento da informação veiculada pela nossa experiência?

As memórias são habitualmente processadas pelo sistema neurobiológico, no sentido de serem armazenadas de forma adaptativa, sendo a informação guardada juntamente com outras memórias e acessível como uma memória de um acontecimento passado. Contudo, algumas experiências traumáticas transformam-se em memórias armazenadas de uma forma que bloqueia o seu processamento adaptativo, continuando a ser experienciadas no presente sob a forma de pensamentos, imagens, emoções e sensações tão reais como as que foram vividas no acontecimento passado perturbador.

O tratamento do EMDR funciona como uma estrada de acesso a uma variedade de memórias, experiências e recursos internos, e portanto, como uma potencial via para a resiliência em situações de trauma repetido.

Num estudo de caso (Zaghrout-Holadi, Alissa & Dodgson, 2008) com um grupo de crianças vítimas de violência continuada, inclusivamente durante a intervenção psicoterapêutica, usando um protocolo de grupo, procurou-se testar a hipótese do EMDR poder ajudar na mudança de padrões de resposta a situações em que a pessoa se tenha sentido anteriormente vulnerável e possibilitar o desenvolvimento da resiliência.

Os resultados do estudo demonstram que o EMDR pode ser eficaz em crianças, em contexto de grupo, em fases agudas de respostas de stress, com impacto na redução de sintomas pós e pré-traumáticos. Os resultados são também promissores no que toca à possibilidade das crianças desenvolverem resiliência, fundamental para futuras situações perturbadoras.

O impacto do EMDR no aumento dos recursos pessoais em contextos de trauma ou conflito continuado merece, então, continuar a ser explorado.

 

Zaghrout-Hodali, M., Alissa, F., & Dodgson, P. (2008). Building resilience and dismantling fear: EMDR group protocol with children in an area of ongoing trauma. Journal of EMDR Practice and Research, 2 (2), 106-113.