Um recém-nascido é um ser fascinante: os seus sentidos estão em desenvolvimento, está focado nos adultos cuidadores e mostra-se curioso pelo mundo que o rodeia. Nos primeiros meses de vida, este é o cenário das brincadeiras. As cócegas, os cucus, as melodias suaves. Estas desempenham um importante papel, ajudando cada bebé a tornar-se calmo, atento e curioso, ao mesmo tempo que vai regulando os seus ciclos da alimentação e do sono.
Agarra, empurra, abana, põe na boca. No início da caminhada, os brinquedos e objectos do mundo são desafios exploratórios. Observamos desde cedo o bebé a segurar um objecto que lhe é desconhecido e a observá-lo atentamente, numa atitude mindful, inata, como se pensasse: “O que é isto? Para que serve? Faz barulho? A que sabe?”. Sem críticas e com genuína curiosidade. Experimenta e, por processos de tentativa e erro, procura conhecer o mundo que o rodeia, começando a compreender que as suas acções podem causar impacto. “Se bater com uma peça na outra faço um barulho engraçado! E quem está comigo até se ri.”
A criança cresce. Surgem outras necessidades. Emergem novas potencialidades.
Os primeiros anos de vida, em que o cérebro cresce a uma velocidade estonteante, são mágicos… Todas as descobertas são enriquecidas com gargalhadas, conversas, canções, festas e abraços que acompanham o quotidiano. A brincadeira continua a ser, por excelência, a melhor maneira de ensinar novas competências aos mais pequenos, estimular a imaginação e apoiar a construção de uma auto-imagem positiva. Desde cedo, as crianças adoram mostrar a sua autonomia através de tarefas simples –limpar uma mesa, saltar ao pé coxinho, arrumar os brinquedos, subir um degrau sem ajuda.
Os brinquedos surgem, também, como ferramentas essenciais à brincadeira imaginativa. O pequeno cubo vermelho deixa de ser apenas um objecto para fazer construções. Ele pode tornar-se no bolo para cantar os parabéns, na almofada de um boneco, ou mesmo no caranguejo que passeia à beira mar. Um lenço, leve e esvoaçante, pode transformar-se nas asas de uma colorida borboleta, no peixe que nada no mar, na saia de uma princesa.
Embora a capacidade para fazer de conta surja mais cedo, é por volta dos três anos que a brincadeira simbólica se torna mais sofisticada, assistindo-se a uma complexificação do pensamento da criança que já é capaz de estabelecer relações lógicas entre as suas ideias. A criança tem agora oportunidade de praticar papéis que observa nos mais crescidos, reproduzindo acontecimentos ou rotinas que lhe são familiares. Enquanto prepara uma sopa para o pai, leva “o filho” ao médico ou finge ser a professora da bonecada, a criança está a preparar-se para aventuras futuras.
A personalidade da criança afirma-se a cada dia que passa. Mostrando vontade de partilhar opiniões e vontades. Fazendo perguntas e mais perguntas. Partilhando as suas conclusões. No entanto, os adultos com quem estabelecem laços emocionais fortes e securizantes, continuam a ser as lentes que ajudam a criança a ver o universo. Um importante e estruturante pilar do desenvolvimento cognitivo, emocional, social e motor. O grande desafio é a criança conhecer-se a si própria participando no mundo de uma forma mais completa, progressivamente mais activa.
Crescer é uma grande caminhada. E muita brincadeira. De mãos dadas com os pais, de sorriso no rosto, cada pequeno passo será uma enorme conquista.
Se o portar mal falasse
“Portar mal é…” Para mim é gritar, diz a mãe da Laura. Para mim é bater, diz o pai do [...]