Saiba porque deve limitar o uso de ecrãs no dia a dia do seu filho
Os dispositivos móveis, tais como smartphones e tablets têm quase omnipresença na vida das crianças e adolescentes e estão a ser usados com mais frequência e em idades mais precoces.
Muitos já são os estudos que alertam para a necessidade de moderação do uso da tecnologia. Recomenda-se que bebés com idade entre 0 a 2 anos não devem ter qualquer exposição, pois sabe-se que os bebés aprendem melhor através de experiências e estimulação psico-motora e face-a-face. As crianças de 3-5 anos devem ter acesso restrito a uma hora por dia e crianças de 6-18 anos devem ter acesso limitado a 2 horas por dia no total de dispositivos tecnológicos. Contudo, atualmente as crianças e jovens usam a tecnologia 4 a 5 vezes mais do que a recomendada. Estas recomendações são difíceis de implementar no mundo real e principalmente se deixarmos à responsabilidade dos filhos o seu controlo.
A maioria dos adultos tem a função executiva dos processos cognitivos plenamente desenvolvida e tem a capacidade de gerir a atenção, priorizar, planear, controlar os impulsos e tomar decisões considerando o futuro. Mesmo assim, os adultos têm dificuldades para impedir que os telemóveis e outros dispositivos se tornem uma distração constante ou dependência. Como as crianças não possuem as capacidades cognitivas de um adulto, então estão particularmente em risco quando se trata de tecnologia. Para elas, o foco está em satisfazer a sua necessidade do momento. Para adolescentes imersos no seu complexo mundo social e conquista de independência, as hormonas e as emoções voláteis criam uma tempestade perfeita quando associados a funções executivas imaturas e a um smartphone. Esta é uma das razões pelas quais as crianças e adolescentes tomam decisões pouco ponderadas quando se trata de utilização de gadgets.
Há benefícios indiscutíveis da utilização da tecnologia, porém o bom senso e regras consistentes são indispensáveis para que haja uma relação com conta, peso e medida entre a tecnologia e o seu filho. Infelizmente, muitos pais não têm conhecimento dos riscos, não cumprem as recomendações e só se preocupam quando o tempo passado em frente aos ecrãs começa a interferir significativamente com as rotinas do filho, empenho escolar e dinâmicas familiares, chegando a tornar-se um vício em alguns casos. Sabe realmente de que forma pode a tecnologia ter um impacto negativo no seu filho?
Alguns pais comentam comigo em consulta que os filhos conseguem estar muito sossegados e concentrados quando estão com um dispositivo eletrónico na mão. Porém, as crianças permanecem envolvidas na mesma atividade quando usam a tecnologia, porque a atenção delas muda constantemente face a tantos estímulos. Por isso é que é divertido! Na verdade, em várias investigações tem sido associado o aumento do tempo em frente aos dispositivos com aumento de dificuldades de atenção a curto e longo prazo.
Alguns investigadores alertam para o perigo do uso de tecnologia na cama contribuir para problemas de sono, com impacto no desempenho escolar nas crianças e adolescentes, sendo recomendada a não utilização de televisão, tablet, ou telemóveis na hora que antecede a ida para a cama.
É também visível o impacto negativo na comunicação e noutras formas de envolvimento social. Em consultório recebo pais preocupados com conteúdos online a que os filhos têm acesso e que são desadequados para a sua idade, bem como situações relacionadas com cyberbullying nas redes sociais.
As famílias queixam-se de interações familiares mais curtas e menos frequentes, maior isolamento dos filhos e desinteresse por atividades que não envolvam dispositivos tecnológicos.
Uma recente investigação portuguesa encontrou uma associação entre passar muito tempo online nas redes sociais e a solidão nos jovens, mesmo quando não deixam de falar com os amigos frente a frente.
Muitas questões se levantam também quanto ao potencial papel prejudicial dos smartphones e tablets no desenvolvimento de estratégias de auto-regulação emocional. Os investigadores questionam: “Se estes dispositivos se tornam o método predominante para acalmar e distrair as crianças pequenas, irão elas ser capazes de desenvolver os seus próprios mecanismos internos de auto-regulação?”
Adicionalmente, questiona-se se o uso excessivo de brinquedos tecnológicos durante a infância pode interferir com o desenvolvimento de empatia, habilidades sociais e resolução de problemas, que são normalmente alcançados explorando, brincando e interagindo com os pares.
Enquanto as crianças estão focadas nos gadgets, como poderão estar atentas e gerir as suas próprias emoções? Como poderão ser capazes de empatizar com alguém ao seu lado, se não estão verdadeiramente atentas ao que se passa à sua volta? Como irão reagir quando por algum motivo não puderem ter estes dispositivos à disposição? Saberão controlar a ansiedade, aborrecimento e frustração?
Os efeitos da exposição prolongada aos aparelhos tecnológicos são potencialmente mais nocivos no grupo etário mais novo, pelo que é crucial seguir as recomendações das entidades de saúde. Lembre-se que as regras e limites consistentes de uso de tecnologia que colocar agora ao seu filho têm como objetivo ensinar e não apenas controlar. Tal como em todas as temáticas da parentalidade, ser um bom modelo para o seu filho é a melhor estratégia para o ajudar a desenvolver um bom julgamento sobre quando, onde e como usar os aparelhos eletrónicos.
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