Eu tenho de fazer a oração
Joana, é uma mulher de 40 anos, casada e tem 2 filhos pequenos. Certo dia, viu nas notícias que uma família foi assaltada à mão armada. Desde então, pensa que algo de mal pode acontecer a qualquer momento e não sai de casa sem fazer uma oração pela proteção dos filhos, do marido, dos seus irmãos, sobrinhos, amigos e vizinhos. Quando termina esta oração, faz outra pelas pessoas desprotegidas à volta do mundo, pedindo à Deus que envie proteção para as criancinhas e para os idosos. Sempre que tenta encurtar a oração, sente que algo de mal pode acontecer e tem de começar a oração desde o princípio. Várias vezes chegou atrasada ao emprego porque não consegue sair de casa sem completar as orações, que devem ser feitas na ordem correta. Constantemente vem-lhe à cabeça imagens da família em acidentes terríveis e por isso sente necessidade de não falhar com as orações diárias porque assim consegue impedir que estes pensamentos se materializem.
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva, é uma patologia psicológica que provoca bastante sofrimento, consome tempo significativo na vida do indivíduo, interfere na qualidade das atividades ocupacionais diárias e nos relacionamentos sociais. Quem a tem, sente que estes pensamentos lhe são estranhos, que não consegue controlar os mesmos e que preferia não os ter. Contudo, algo mais forte o leva a realizar determinadas ações com o intuito de reduzir o desconforto e evitar que estes “maus acontecimentos” ocorram.
O pensamento sobre os maus acontecimentos (obsessões) ocorre de forma intrusiva e persistente, provocam imenso desconforto e mal-estar, levando à necessidade imediata de neutralização, ou seja, uma ação física ou mental que permite aliviar o desconforto (compulsão), uma vez que garante que tal acontecimento não se concretize na realidade. A segurança e alívio provocados pela compulsão levam o indivíduo a realizar estas ações com mais frequência, perpetuando assim o ciclo: obsessão → mal-estar → compulsão → alívio.
Para os indivíduos com POC, ter um pensamento sobre uma ação equivale a realizar esta ação, sentem-se altamente responsáveis pelos pensamentos, acreditam que há uma forma correta de se fazer as coisas, revelam-se intolerantes à incerteza e exageram na leitura da probabilidade da ocorrência dos acontecimentos ameaçadores.
A Terapia Cognitivo-Comportamental tem-se revelado a mais eficaz no tratamento da POC e tem como alguns objetivos: substituir o significado das obsessões atribuído pelo paciente, reduzir a crença da responsabilidade, modificar gradualmente os comportamentos indesejados, entre outros.
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