O estudo epidemiológico ACE (Adverse Childhood Experiences), realizado nos EUA, baseou-se em entrevistas detalhadas sobre experiências de negligência, de abuso e de vivência numa família disfuncional na infância e o seu impacto no futuro. Na sequência deste estudo foram publicados diversos artigos científicos onde foram demonstradas as relações entre a adversidade na infância e presença de alterações mentais e médicas, como doenças auto-imunes, do coração, dos pulmões, do fígado, cancro, hepatites, icterícia, diabetes, fracturas ósseas e doenças sexualmente transmissíveis, na idade adulta.
Os investigadores observaram correlações inesperadas entre o que aconteceu na vida dos participantes enquanto crianças e a sua saúde, bem-estar e factores de risco para doenças na idade adulta.
Os resultados foram surpreendentes, tanto pela prevalência do mau-trato, como pela adversidade, assim como pelo seu impacto na saúde e bem-estar, 40 ou 50 anos mais tarde. Os autores verificaram que as experiências adversas eram bastante comuns na amostra. Segundo eles, foi dramático compreender que 66% de uma amostra representativa da população, com boas condições sócio-económicas, havia sofrido mau-trato e outras disfunções familiares enquanto crianças. Mais espantoso era o facto de a adversidade surgir em “pacote” – se uma determinada categoria estava presente (por exemplo, alcoolismo) havia 87% de probabilidade de pelo menos outra estar presente (por exemplo, abuso emocional ou sexual).
É aterrador perceber, repetidamente, a profunda relação entre adversidade na infância e disfunções mentais, físicas e sociais existentes na sociedade. Por esse motivo, a intervenção nas situações de trauma não deve ser ignorada. Existem várias possibilidades de intervenção, entre elas o EMDR.
Com base em:
Wylie, M. S. PSYCHOTHERAPY NETWORKER. As the twig is bent. Understanding the health implications of early life trauma. http://www.psychotherapynetworker.org