A perturbação obsessiva compulsiva (POC) é caracterizada por dois grupos de sintomas: pensamentos obsessivos e pelos comportamentos compulsivos. É considerada, pela OMS, uma das condições mais incapacitantes, juntamente com muitas doenças do foro físico, com impacto na vida familiar, profissional, social do individuo e na sua qualidade de vida.
As obsessões são pensamentos, imagens mentais intrusivas, indesejadas e perturbadores que geram ansiedade. As compulsões são comportamentos realizados com o objetivo de diminuir a ansiedade e o medo causado pelas obsessões. Os indivíduos sabem que não fazem sentido, não existindo prazer na sua realização mas não conseguem parar o seu comportamento.
O tratamento da perturbação obsessiva compulsiva continua a ser um desafio. Durante décadas a terapia comportamental e a terapia cognitivo-comportamental, com exposição e prevenção de resposta, têm mostrado serem intervenções de sucesso no tratamento da POC, seguidas da abordagem farmacológica (inibidores de recaptação da serotonina).
A abordagem comportamental envolve técnicas como a exposição sistemática e progressiva aos estímulos que geram as obsessões e compulsões. O objetivo é ajudar o individuo a não realizar a compulsão através do adiamento progressivo, e a tolerar a ansiedade que sente.
A abordagem cognitivo-comportamental à POC também utiliza técnicas comportamentais, tais como a exposição e prevenção de resposta juntamente com técnicas de restruturação cognitiva.
Apesar da evidência científica destas abordagens existem algumas limitações: baixa adesão e probabilidade de recaída após terapia.
Continua a pensar “O que é o mindfulness tem a ver com o tratamento da POC?”
Estudos recentes mostram que o mindfulness pode ser o componente de sucesso na terapia.
Apenas para o relembrar: o mindfulness tem as suas raízes na meditação budista e pode ser definido como “ foco da atenção de forma particular e intencional no momento presente, sem julgamento. Este tipo de atenção gera maior consciência, claridade e aceitação do aqui e agora-“(Jon Kabat-ZIn, 1994).
Se vai estando atento aos artigos que publicamos sabe que nas últimas décadas o mindfulness tem sido integrado em diversos modelos psicoterapêuticos com sucesso no tratamento de quadros de ansiedade, depressivos, dor crónica, adição e … POC (entre outros).
Enquanto prática experiencial o mindfulness envolve a aceitação e consciência da experiência de forma holística (sensações, emoções e pensamentos) no momento presente possibilitando uma forma alternativa de se relacionar com pensamentos intensivos e/ou emoções perturbadoras sem reagir a eles (comportamento compulsivo). O mindfulness pode ser visto como uma forma de exposição aos pensamentos e impulsos para agir e o foco de atenção no momento presente – e não nos pensamentos obsessivos – pode ser visto como uma forma de prevenção de resposta.
Existe evidência científica que modelos cognitivo-comportamentais com integração de mindfulness provocam mudanças positivas e duradouras tanto ao nível do comportamento como no cérebro (processos bioquímicos).
Estudos mais específicos mostraram que os pacientes que receberam terapia Mindfulness-based cognitive therapy (MBTC) revelam:
- Melhoria no foco de atenção e capacidade de concentração, de uma maneira geral
- Diminuição de sintomas
- Maior capacidade para tolerar e lidar com a ansiedade
- Facilitação na exposição
- Maior consciência e aceitação da necessidade para repetir comportamentos e não o fazer
- Diminuição da atividade mental
- Melhoria no sono
Estes estudos revelam ainda que a integração do mindfulness nos tratamentos atuais para a POC apresenta vantagens favorecendo a maior adesão ao tratamento e redução de recaídas.
Se tem perturbação obsessiva-compulsiva e tem evitado recorrer a terapia, seja qual for o seu receio, espero que após ler este texto, clique aqui para marcar consulta!
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