Sabemos que passa a maior parte do dia a trabalhar. Verdade que passa mais tempo no trabalho e com colegas de trabalho do que propriamente com a família? E que a maior fatia da sua vida é passada em vida ativa a trabalhar? Então, partindo do pressuposto de que só vivemos uma vez, e focando-se na sua área profissional pergunto-lhe:
1 – Está a viver a vida que quer? A ser fiel aos seus valores e propósitos?
2 – Sente-se feliz e realizado no seu trabalho?
3 – Se a sua resposta foi não, porque não muda? (E aqui dou-me à ousadia de assumir que mais da maioria dos leitores vão responder que não, tendo em conta estudos de infelicidade no trabalho que chegam a valores de 72%)
Hoje convido-o a refletir sobre a psicologia por trás destas questões de mudança de carreira.
Mas primeiro importa clarificar a distinção entre mudança de trabalho ou carreira, pois por vezes também estes conceitos são confusos. Uma mudança de trabalho significa manter a sua carreira e percurso profissional mas mudar de funções na sua categoria profissional, ou de empregador, ou de departamento na mesma empresa, ou de equipa, isto é, alterações externas em prol de manter a satisfação interna com a carreira que escolheu. Quantas histórias ouvimos de pessoas que estão infelizes nos trabalhos por uma questão de problemas com os chefes ou até colegas de equipa? Já uma mudança de carreira implica uma consciência de insatisfação com as suas funções e o tipo de trabalho que tem, uma insatisfação mais interna. Passemos a exemplos: se a sua angústia e insatisfação está diretamente relacionada com a chefia, equipa, ambiente ou empregador e não com as suas funções, ou se sente que no trabalho em que está não o desafiam profissionalmente, poderá ser benéfico ponderar mudar de trabalho. Em contraste, se não gosta das funções e do tipo de trabalho que faz todos os dias, e por exemplo até já tentou mudar de empregador mas continuou insatisfeito, talvez a opção seja a mudança de carreira.
Mas uma transição de carreira significa tantas coisas assustadoras, desconfortáveis e geradoras de stress. Quais? Ora falo em perda da nossa zona de conforto, mudança, perda de controlo, readaptação e incerteza. Palavras que instintivamente nos fazem sentir um nó na garganta não é? Automaticamente o nosso cérebro, sempre à procura de fugir do desconforto, começa a criar barreiras que acabam por nos levar a não agir, “a não fazer nada”. Estou a falar daquelas desculpas automáticas que surgem como por exemplo o risco financeiro, pois há contas para pagar e é impraticável deixar tudo e não ter forma de sustento. Outra barreira muito frequente é o sentimento de derrota após um investimento pessoal no desenvolvimento de uma carreira profissional, aqueles pensamentos como “investi tanto para nada?”. E é ainda frequente o fenómenos de pescadinha de rabo na boca da depressão. Eu explico. Se já existem sintomas depressivos devido à vida profissional, e sabendo que a depressão nos limita as capacidades de tomada de decisão, que nos diminui a energia, que nos inunda de pensamentos ruminativos de subestimação e de falha; mudar de vida e de carreira e todo o esforço que isso implica, parece ainda mais uma montanha impossível de escalar.
Mas permita-me partilhar algo consigo: por baixo destas “supostas barreiras” esconde-se o real inimigo – o medo. Em primeira instância, os medos de perda de autonomia; e de separação, abandono e rejeição. Mas se formos ainda mais ao fundo, encontramos medos tão viscerais como o medo de dececionar os outros que amamos e que estão orgulhosos com as nossas carreiras, ou o medo de perdermos o estatuto que nos faz sentir tão bem connosco próprios, ou ainda o medo de sermos julgados pelos outros que nos levam muitas vezes a sentimentos de incompetência, fraqueza e preguiça. Ou seja, estes medos mais viscerais que lhe falo, são no fundo o medo do fracasso, da humilhação, da vergonha e de desaprovação de nós mesmos.
Então e como ultrapassamos estes medos? Com coragem, saltando para o desconhecido e a aventura que está a evitar. Já ouviu falar da “fight-or-flight response” (resposta luta ou fuga)? Então sabe que o medo ativa a resposta de stress no nosso cérebro, a libertação de hormonas de stress, como o cortisol, que vão desencadear diversas mudanças no nosso corpo como por exemplo aumento do batimento cardíaco etc. A minha sugestão é que utilize esta resposta neurológica a seu favor. Lute em vez de fugir. Use o stress como um antídoto para as suas dificuldades e não como um veneno.
Esta não é claramente uma decisão para ser tomada de ânimo leve e implica muita reflexão e planeamento. O primeiro passo, parece-me, passa por uma consciencialização e validação da insatisfação relativa à sua carreira, que pressupõe que confronte as crenças que criou sobre o seu emprego atual e compreenda se a insatisfação é mais interna ou externa. Caso conclua que a insatisfação está claramente associada a carreira profissional e não ao empregador, então próximo passo é compreender o problema – dissecar a insatisfação, os medos por detrás da mudança (já explicados acima), o que gosta e não gosta de fazer, que competências tem e onde poderia usá-las se mudasse de rumo profissional, que aprendizagens tem e quais teria que adquirir, que temas lhe interessam, e em que contexto se encontra, em termos pessoais e de sociedade. Seguidamente começa a parte do agir, do planear opções e antever respetivos obstáculos e os diferentes graus de adaptação que esta mudança exigirá de si, quer em termos óbvios de mudança de carreira, mas também adaptações financeiras, familiares, sociais e até da sua identidade como profissional e como Ser, em última instância. No meio de todo este processo moroso e com o tempo como o seu melhor aliado, não se esqueça de aceitar que a mudança implicará dias mais negros, noites mal dormidas, choro, irritação, dúvida, entre outras coisas desconfortáveis mas necessárias neste processo.
Quer dicas mais práticas? Comece por estes pequenos passos:
E por último deixo-lhe com esta partilha de duas áreas que alicerçam a nossa vida e que são abaladas com as mudanças de carreira, mas que não pensaríamos que o poderiam ser à partida. Espreite aqui e inspire-se!
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