Ela cuida da sua imagem visual, revela uma postura de “nada me toca”, fala com determinação sobre o que quer e não quer. Serão estes sinais de falta de amor próprio? O que poderá esconder a aparência?
Com o baú emocional aberto, Clarice (nome fictício), questiona as boas ações do namorado com frequência. Os seus próprios amigos são alvo de crítica como forma de se sobrevalorizar.
Senta-se na poltrona e afirma que se o namorado a ama terá de…… (listando uma série de obrigações), caso contrário termina a relação na hora, sem dó nem piedade, pois ela sabe o que não quer.
A lista foi criada sem ter em conta as necessidades emocionais do seu namorado, satisfaziam os seus próprios interesses e sem qualquer hipótese de negociação. Apesar da sua intransigência, o namorado oferecia-lhe flores de forma regular e esta demonstração de afeto era vista como suspeita e por isso desvalorizada na sua essência.
Por detrás desta aparente segurança há uma crença (talvez não consciente) “como é que ele pode ser mais amável comigo do que eu mesma?”.
Ao interpretar as boas intenções como suspeitas contra si mesma, transformou-se numa hipervigilante com comportamentos defensivos gerando cada vez mais stress e ansiedade.
A sensação de perda de controle foi aumentando drasticamente à medida que a relação sobrevivia às provas do tempo. O medo e a tristeza apoderavam-se do dia-a-dia do casal e as férias mais pareciam um massacre.
Com lentes defensivas e estratégias evitativas, a Clarice foi-se revelando uma mulher de atitudes tensas, por vezes violentas provenientes da sua insegurança emocional e baixa auto-estima. Tudo isto mascarado por um visual, uma retórica e uma moral irrepreensíveis.
E o que temia, face ao seu processamento equivocado da realidade, tornava-se real reafirmando o seu ponto de vista.
Este ciclo vicioso de acontecimentos sucessivos (suspeita, atitudes exageradas e fora do lugar, processamento e reafirmação pessoal), davam-lhe a postura de “nada me toca” pois afinal tudo acontecia como ela esperava.
Uma estratégia distorcida de “falsa” valorização, que por vezes designamos por amor-próprio e que na verdade não o é.
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