“The catastrophe you fear will happen, has in fact already happened”
Donald Winnicott
Durante este mês a Oficina de Psicologia preparou para si informação sobre a ansiedade generalizada: como se caracteriza, como se manifesta, as consequências, as estratégias cognitivas e emocionais para lidar com a preocupação e sintomatologia associada.
Certamente que já sabe, por experiência própria ou por curiosidade, que a ansiedade generalizada é caracterizada por uma preocupação excessiva e crónica sobre tudo ou quase tudo: o trabalho, a saúde, a relação,… Em termos cognitivos quem sofre de ansiedade generalizada tende a enviesar a realidade, distorcendo-a: tem a tendência para prestar mais atenção a sinais de potencial ameaça, interpretar as situações (principalmente as ambíguas) como perigosas e até catastróficas e a sobrestimar a possibilidade de resultados negativos. A preocupação excessiva faz com se esteja constantemente a antever o que pode correr mal numa tentativa de controlo e evitar o perigo.
Ao escrever este artigo deparei-me com uma frase de um ilustre psicanalista, Winnicott, que diz “The catastrophe you fear will happen has in fact already happened” (A catástrofe que tememos que possa vir a acontecer na realidade já aconteceu) e que se aplica, “que nem uma luva”, à preocupação. A preocupação consiste na projeção no futuro dos nossos medos (algo de perigoso ou catastrófico pode acontecer) e está relacionada com a forma como nos relacionámos com determinadas situações de perigo e a forma como experienciámos o medo no passado. Imagino o que está neste momento a pensar: “Quando nos preocupamos estamos orientados para o futuro mas na verdade tem a ver com o nosso passado?! Não faz sentido! É um paradoxo!”
Como posso ajudar a esclarecer o que parece ser um paradoxo? Foi quando me lembrei de um artigo que escrevi há já algum tempo com o título “As amarras que nos prendem ao passado” e que na altura teve como ponto de partida uma história que gosto bastante e que costumo contar aos meus clientes, O Elefante Acorrentado de Jorge Ducray.
Na nossa infância e mesmo na adolescência não temos, ainda, a maturidade neurológica, cognitiva e emocional para lidar com determinadas situações, principalmente aquelas que despertam em nós emoções intensas, como por exemplo o medo. Lembra-se certamente dos seus medos de infância e como atingiam uma dimensão enorme e assustadora! Mas vamos crescendo e tornamo-nos adultos, o que pressupõe, se tudo correr naturalmente e sem grandes sobressaltos, que chegamos à fase de desenvolvimento e maturidade que nos permite ser mais resilientes, que aprendemos a lidar, neste caso, com situações de perigo, e que dispomos de um conjunto de recursos que nos ajudam a regular emoções que essas situações despoletam, como o medo. Acontece muitas vezes e por diversas razões que mesmo em adultos continuamos a sentirmo-nos pequeninos ao lado do medo e continuamos a relacionarmo-nos com os medos da mesma forma que o fazíamos na nossa infância e adolescência, quando pensávamos que uma bruxa estava no armário do nosso quarto pronta a sair!
Chegou a altura de vos desafiar:
1º Leiam o artigo que escrevi sobre “as amarras que nos prendem ao passado”
2º Avaliem a forma como estão a olhar para determinada situação que vos preocupa em excesso e persistentemente. Questionem a vossa atitude perante o risco e os perigos reais e a vossa capacidade para lidar com o medo, AGORA no momento presente. Enquanto adulto como posso lidar com situações de perigo? E com o medo? Quais são as situações? São reais? Têm solução? Que estratégias e recursos tenho para cada uma dessas situações?
3º Desenvolvam uma atitude de compaixão pela vossa criança interior, que se sentia impotente e aterrorizada, que fugia ou congelava perante determinada situação.
4º Procurem ajuda de profissionais se precisarem… Afinal estamos a falar de esquemas de funcionamento que são reforçados ao longo da nossa vida …
Deixo-vos com uma notícia má e outra boa: A má notícia é que as preocupações não desaparecem e a boa notícia é que vai sentir-se menos vulnerável e mais confiante para enfrentar os perigos e os seus medos, no momento presente!
Sónia Anjos
Psicologia do senso comum – a arte de “adivinhar” o que o outro pensa
Tentar “adivinhar” o que o outro está a pensar ou a [...]