O que se faz em Terapia de Casal?
Algumas ilustrações práticas
Quando são referidas dificuldades ao nível da comunicação:
Em primeira instância, o terapeuta proporciona um setting/contexto terapêutico neutro, no qual ambos os elementos do casal podem ter tempo para dar a sua perspetiva acerca de um mesmo tema, numa partilha conduzida por alguém desconhecido, que não emite juízos de valor, é imparcial, estimula um discurso focado nos sentimentos, e não permite que o “formato” de diálogo infrutífero – e, muitas vezes, conflituoso – que foi criado e sendo perpetuado em casa seja replicado. Podem ser ensinadas estratégias de diálogo alternativas, positivas, que, muitas vezes, e no seu início, parecem artificiais mas que, sendo alvo de treino, se podem vir a tornar progressivamente espontâneas e genuínas. Um dos recursos de que o terapeuta dispõe, não só para avaliar, como também para depois treinar competências comunicacionais com o casal, é o roleplay ou dramatização. Esta é uma ferramenta muito rica em termos de recolha de informação, através da qual, muito frequentemente, o terapeuta constata que os elementos do casal estão mais centrados na resposta que irão dar ao outro, do que verdadeiramente preocupados com o que o outro está a dizer – provavelmente nem escutaram o verdadeiro conteúdo do discurso. Neste âmbito, aprender a ouvir será o primeiro desafio.
Quando existem situações de crise associadas a transições no ciclo vital da família:
São exemplos o nascimento de um filho, a entrada dos filhos na adolescência, a saída dos filhos de casa, etc.. Atualmente, situações de desemprego, de crise e dificuldades financeiras também estão na génese de muitos dos conflitos conjugais. Muitas vezes os casais acabam por se afastar porque um deles, ou os dois, se encontra demasiado preocupado com questões que pensa serem uma preocupação só sua. Tomando como exemplo o nascimento de um primeiro filho, o terapeuta pode ajudar o casal a lidar com o impacto que todo o acréscimo de tarefas e stress que este acontecimento de vida trouxe e que, ao invés de aproximar o casal, o afasta. Uma estratégia importante pode passar pela criação ou manutenção de hobbies por cada um dos elementos do casal, sem prejuízo da importância da vivência em casal e a três. O tempo individual, para o “agora pai” e a “agora mãe” se dedicarem a si e a atividades prazerosas, são imprescindíveis. Em simultâneo, deve ser alimentado o “nós”. Com os novos papéis e as novas prioridades que surgem, a atenção de cada elemento do casal passa a centrar-se mais na criança e, muitas vezes, deixa de haver um momento “só” para olhar para o outro. O tempo a dois deve e tem que ser preservado. Seja um passeio de vinte minutos, uma saída para jantar, ir ao cinema ou, mesmo, um fim-de-semana romântico a dois, os casais não podem deixar de namorar e de alimentar o seu espaço, preservando a intimidade e aquilo que é só seu.
São cada vez mais comuns os pedidos de acompanhamento por parte de casais mais velhos que passam por uma fase a que chamamos de “ninho vazio”, quando os filhos se autonomizam e saem de casa. Os progenitores, que passaram tantos anos centrados no desempenho das funções parentais, olham um para o outro e quem veem à sua frente é muitas vezes um estranho. Note-se que esta faixa etária é uma daquelas em que os índices de divórcio mais têm vindo a aumentar no nosso país. O terapeuta pode ajudar a que o casal se “reconheça”, recordando os interesses que partilhavam e que, porventura, os uniram, construindo a história de vida do casal, cuja identidade se foi perdendo dentro da família nuclear, com todos os seus subsistemas e múltiplos papéis, criando um fio condutor que permita encontrar “o casal perdido”. Neste contexto, o terapeuta pode sugerir que sejam recriadas algumas atividades prazerosas em conjunto ou encontrados novos focos de interesse em comum.
Quando as diferenças são fator de afastamento entre os elementos do casal:
Muitas vezes os casais unem-se sem que exista um verdadeiro conhecimento das idiossincrasias um do outro. Cada um acredita que conhece o outro profundamente e, com o decorrer do tempo e a passagem da fase de enamoramento e encantamento, começa a perceber que assim não é. Isto não significa que aquele casal não se possa manter unido e a sua relação ser bem-sucedida. A terapia de casal pode ser o contexto ideal para que o conhecimento mútuo seja ampliado e a conexão entre os seus elementos aumentada. Daqui resultará uma maior intimidade e satisfação com a relação. É importante comunicar explicitamente sobre as expectativas pré-relação ou união, o confronto entre o que se esperava e o que se observa na realidade, sem que nenhum dos elementos do casal se sinta ameaçado ou que defraudou as expectativas que o parceiro tinha depositado sobre si.
Quando existem dificuldades na vida sexual do casal:
A tendência mais comum é para que a frequência das relações sexuais de um casal vá diminuindo à medida que os anos de relação avançam e as solicitações de natureza familiar e profissional, entre tantas outras, aumentam. Na maior parte dos casos não existem causas orgânicas nem disfunção sexual (cujo despiste deverá ser o primeiro passo) e o desejo pelo parceiro permanece. Deste modo, o foco do trabalho terapêutico será a otimização da comunicação e o desenvolvimento de uma maior intimidade. Neste, como em todos os outros contextos, o terapeuta pode recorrer às prescrições, comummente designadas como “trabalhos de casa”. Em suma, é indicado aos casais que, entre sessões, e mesmo que em primeira instância possam sentir-se relutantes ou não compreender o objetivo do que lhes está a ser pedido, cumpram determinadas tarefas que vão de encontro às áreas de maior fragilidade que o terapeuta identificou. No caso específico das dificuldades de natureza sexual, cada um dos elementos do casal poderia escolher algo que gostava que o outro lhe fizesse – por exemplo, massagens durante dez minutos – e o outro tem que o cumprir.
Quando o melhor caminho é a separação…
Em última análise, pode-se chegar à conclusão, em contexto terapêutico, que o melhor para o casal é separar-se e continuar a sua vida em separado. Esta observação é válida para qualquer processo terapêutico conjugal. Os terapeutas conjugais são muitas vezes uma ajuda fundamental para os casais perceberem que a sua relação já não faz sentido e que a melhor solução é prosseguirem por caminhos distintos. Mais, esta constatação e o processo de separação podem ser amenizados e bastante menos dolorosos com a presença e ajuda do terapeuta.
Embora tenha estado só a ser referida uma intervenção remediativa, o terapeuta pode surgir bastante mais cedo na vida dos casais, numa ótica preventiva. Disso mesmo são exemplo os programas de preparação para o casamento, embora ainda raros no nosso país, sendo que os mais conhecidos estão associados aos processos de preparação para casamentos religiosos.
Rita Fonseca de Castro
Psicóloga Clínica e Terapeuta Familiar
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