Alguns autores recentes têm vindo a defender que as atuais gerações de adolescentes e jovens adultos vivem numa “cultura de ecrãs”, utilizando as novas tecnologias, sobretudo os telemóveis e a internet, como meios de trabalho e de interação social primordiais.
Ora, sabendo que a criação de laços afetivos e a formação de um grupo de pares é uma das tarefas essenciais da adolescência, será que o uso de sms e a utilização das redes sociais como meio de comunicação entre si alteram a face das relações interpessoais? Até que ponto a utilização de um objeto pode transformar a comunicação e a ligação entre os jovens?
A existência de um ecrã para mediar as relações interpessoais pode, efetivamente, estabelecer novos limites e novas permissões, uma vez que muitos jovens se sentem protegidos por essa mediação, acabando por se expor mais ou por recorrer a verbalizações que talvez nunca fossem ditas pessoalmente. Nestes contextos, encontramos muitas vezes jovens em conflito ou com fortes sentimentos de arrependimento por terem dito ou feito algo no conforto de uma ausência do outro. A comunicação interpessoal ganha aqui uma dimensão mais ousada, mas também menos refletida, o que no diálogo face a face não acontece facilmente, pois envolve um conjunto de marcadores verbais e não verbais da maior importância para o entendimento interpessoal.
Desta forma, os jovens da ecrãcultura estão a assumir um novo código de comunicação, onde o contacto direto é, muitas vezes, negligenciado. E quando isso acontece, será que há espaço para uma vivência adequada das emoções, para a identificação de valores partilhados, para o desenvolvimento de um sentimento de pertença? Qual será a extensão desta nova forma de relacionamento para a criação da identidade pessoal e social dos jovens?
Como em todas as dimensões da vida, há que encontrar o equilíbrio. Não se pode negar a panóplia de vantagens que as novas tecnologias trazem aos jovens de hoje, mas também não se pode deixar que estes esqueçam de cultivar as competências interpessoais e sociais da forma mais básica e direta. Caberá aos pais monitorizar e incentivar este equilíbrio, permitindo o acesso às tecnologias mas promovendo também desde cedo os encontros interpessoais e a socialização entre pares até que o/a adolescente o consiga fazer autonomamente.