Perturbação Dismórfica Corporal
Não consigo mais ver-me ao espelho! É impressão minha ou tenho o nariz cada vez maior?! Não conheço ninguém com um nariz tão grande como o meu!
Victor, XX anos
Pensamentos desta natureza, sobre o nariz ou qualquer outro aspecto da aparência física, já todos teremos tido, em determinado momento da vida, com maior ou menor preocupação e sofrimento associados, com maior ou menor impacto na auto-estima e auto-imagem. A adolescência é uma fase tipicamente fértil nestas questões. Também temas como o do peso excessivo assumem especial relevância em alturas de maior exposição do corpo, como o Verão e, com certeza, já todos ouvimos pessoas próximas fazer verbalizações nesse sentido, dando por nós a pensar “Como é possível que a Maria, que está tão bem, passe a vida a queixar-se de que está gorda?!” e que mais não são do que chamadas de atenção ou inseguranças com pouco sentido.
Imaginemos agora que este tipo de pensamento negativo da Maria, ou do Victor, o dono do nariz acima referido, assume um caracter instrusivo, não olha a circunstancias, e está presente várias horas por dia (três a oito), ocupando um papel central na vida mental – como se a Maria e o Victor não pensassem em mais nada. Acresce que sentem que, à medida que se movem, um holofote os acompanha, sendo inundados por uma angústia extrema quando pensam na sua aparência. Imaginemos ainda que, pelo sentimento de vergonha associado e à crença de que todos os vão olhar e avaliar negativamente pelo tamanho do nariz ou pelo peso excessivo, a Maria e o Victor olham-se repetidamente ao espelho, comparam a sua aparência com a dos demais, adoptam estratégias para procurar “disfarçar” os seus “defeitos” (um exemplo será o recurso a maquilhagem ou, mesmo, a cirurgias plásticas que, muitas vezes, se sucedem, por não existir uma satisfação com o resultado obtido) ou evitam mesmo comparecer a contextos de natureza diversa. Estes comportamentos assumem um carácter ritualizado, têm como função o alívio da ansiedade causada pela preocupação extremada, e recebem a designação de compulsões. No caso da Maria e do Victor estamos perante uma Perturbação Dismórfica Corporal, uma perturbação do espectro obsessivo-compulsivo.
Nesta perturbação existe uma visão distorcida ou exagerada de uma, ou mais, partes do corpo que são considerados como “defeituosas” (podem ser características reais ou imaginárias) e que, aos olhos dos demais, podem ser tidas como “normais”/ligeiras ou até podem passar despercebidas – por mais que isto seja dito à Maria ou ao Victor, eles não conseguirão controlar, nem tão pouco evitar, os pensamentos negativos. À percepção de defeito associa-se um forte sentimento de vergonha – que pode chegar, mesmo, à repugnância – bem como um défice acentuado de auto-estima e aceitação de si.
Este foco excessivo na aparência, em situações mais severas, pode tornar-se mesmo incapacitante, conduzindo ao evitamento de contextos como o escolar ou profissional (que podem acabar por ser abandonados), a evitar sair de casa, chegando a situações de isolamento social, ou, em casos extremos, até mesmo ao suicídio. Se pensarmos que estes pensamentos assumem um carácter obsessivo e podem estar presentes várias horas por dia, a exigência que lhes é associada não deixa, de facto, espaço para dedicação e atenção a outros temas/tarefas.
A perturbação dismórfica corporal beneficia da intervenção psicoterapêutica – em alguns casos, em complementaridade com o recurso a fármacos.
Rita Fonseca de Castro
Psicóloga Clínica e Terapeuta Familiar
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