O mundo moderno também tem gerado vários neologismos para lidar com novos comportamentos e novos contextos, que não haviam sido definidos por uma nova palavra. Um bom exemplo é a palavra inglesa PHUBBING, formada pelas palavras snubbing (esnobar) e phone (telefone), que descreve a prática de desprezar outros a favor de nossos telefones celulares. Em 2012, uma campanha publicitária convidou uma série de lexicógrafos, autores e poetas para cunhar um neologismo para descrever esse comportamento. A campanha, criada para gerar mais consciência sobre esse fenômeno, foi um sucesso e o termo ganhou as redes sociais.
Assustador, não? Parece bastante pesado o uso do verbo “desprezar” para se referir a tal comportamento, mas é isso mesmo que andamos fazendo. Quem possui um smartphone, com certeza, já desprezou ou negligenciou alguém, que estava presente ao seu lado, em prol do celular. O phubbing é uma realidade do mundo atual, do qual somos vítimas e protagonistas. E as consequências deste comportamento moderno podem ser profundas.
Vários estudos mostram que o phubbing pode ter um grande impacto em nossos relacionamentos mais importantes, gerando sentimentos de desconexão e desconsideração entre as pessoas. Um estudo chinês avaliou 243 adultos casados e constatou que, quando um dos cônjuges dava mais atenção a seu smartphone do que deveria, havia menor satisfação conjugal e maiores sentimentos de depressão. Os autores Meredith David e James Roberts estudaram bastante o impacto das distrações causadas pelo celular na vida de um casal e sugeriram que o phubbing pode arruinar um dos relacionamentos mais importantes que temos como adulto: aquele com nosso parceiro de vida.
Outros estudos mostram que o simples fato de ter um telefone na mesa durante uma conversa interfere na conexão com a pessoa com quem você está conversando, assim como nos sentimentos de proximidade experimentados e a qualidade da conversa. Na verdade, de acordo com esses estudos, as conversas sem smartphone presente são de qualidade significantemente superior àquelas com smartphones ao redor, independentemente da idade, gênero ou humor da pessoa. Sentimos mais empatia quando os smartphones são guardados e isso faz todo sentido. Quando estamos com nossos telefones, não estamos olhando as pessoas, não lemos suas expressões faciais, não ouvimos as nuances do tom de voz, nem observamos a linguagem do corpo. Todos esses sinais de comunicação não-verbal são essenciais para se estabelecer uma conexão autentica e satisfatória.
O pior é que quem sofre a ação do phubbing (quem sente-se excluído nesta relação) começa a recorrer às redes sociais para sentir-se incluído. Eles podem se voltar para o celular para se distrair dos sentimentos dolorosos de serem socialmente negligenciados. Precisamos nos lembrar que nós, humanos, somos seres profundamente sociais, necessitamos do sentimento de pertença e conexão com outras pessoas para sermos saudáveis e felizes. A nossa maior necessidade, após o alimento e a proteção, é ter conexões sociais positivas com outras pessoas.
Portanto é bastante irônico observar que os telefones celulares – que foram criados para ser uma ferramenta de comunicação – hoje possam impedir, em vez de promover a conexão interpessoal. Além disso, alguns estudos sugerem que o phubbing pode virar um círculo vicioso: quanto mais uma pessoa passa a conviver com as mídias sociais, menos conexões verdadeiras faz e mais se volta para seu mundo virtual.
Ok! Você se identificou como uma pessoa que anda praticando phubbing ou está quase lá, dando mais atenção ao seu celular do que as pessoas à sua volta? Saiba então que a consciência é a única solução para melhorar seu comportamento. Você precisa perceber o que te leva a conectar-se nas suas relações. O livro Love 2.0, baseado nas pesquisas da autora Barbara Fredrickson, sugere que a intimidade acontece nos menores momentos: uma conversa durante o café da manhã, o sorriso de uma criança, uma gentileza com o seu porteiro. A chave para nos conectarmos é estar presente, a cada momento e de forma consciente. Um outro estudo mostrou que estamos mais felizes quando estamos presentes, independentemente do que estivéssemos fazendo. Podemos estar presentes com a pessoa na nossa frente agora, não importa quem ela seja.
Já se você é quem está se sentindo excluído em uma relação pelo phubbing, é preciso entender que a pessoa que o faz, não está fazendo isso com intenção maliciosa. Provavelmente ela está apenas seguindo um impulso (às vezes irresistível) de se conectar. O objetivo dela não é excluir. Ao contrário, o que ela está procurando é uma sensação de inclusão, só que está fazendo isso nas mídias sociais! Talvez o pior que se desconectar dos outros, seja nos desconectar de nos mesmos. Mergulhar no mundo virtual pode nos levar a negligenciar ou desprezar até as nossas necessidades essenciais, como dormir, fazer exercícios, até comer.
Então, da próxima vez que estiver com outra pessoa e se sentir tentado a pegar seu smartphone, pense bem! Que tal tentar olhar nos olhos da sua companhia e escutar o que ela tem a dizer? Aposto que fará bem a você, ao seu relacionamento e a nossa sociedade.
Júnea Chiari – Psiquiatra da Oficina de Psicologia Brasil
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