Quando pensamos em raiva e ansiedade, não pensamos que possam estar associadas. A ansiedade está associada a preocupação ou medo e a raiva geralmente é associada a algum tipo de frustração. Embora sejam consideradas experiências emocionais diferentes, poderão ter alguma sobreposição.
A raiva, tal como a ansiedade, é uma resposta emocional instintiva de uma ameaça real ou imaginária. Um cérebro irritado é tomado de assalto pelo sistema límbico. O sistema límbico localizado na parte inferior do cérebro desperta a amígdala, um pequena estrutura que liberta cortisol (hormona do stress) para fazer frente à situação. A raiva, tal como a ansiedade, ativa o nosso sistema nervoso simpático: a respiração torna-se rápida, o coração fica acelerado e há um aumento da tensão muscular da parte superior do corpo (cabeça, pescoço e ombros). O nosso córtex pré-frontal fica inibido e torna-se difícil tomar decisões, pensar, avaliar ou resolver problemas.
Imagine então que a raiva e a ansiedade caminhavam lado a lado, numa estrada. De repente, viam uma situação de perigo e todo o processo de ativação inicia-se para as estas duas emoções: mãos suadas, coração a bater mais depressa, respiração acelerada, tensão muscular… A Ansiedade antecipa uma catástrofe e a Raiva também. Estas duas emoções surgem como duas manifestações do mesmo processo tendencioso de catastrofização.
Mas aqui aparentemente temos uma bifurcação: a ansiedade evita, afasta-se e contrai. A raiva vai à luta, avança, expande, e manifesta-se quando nos sentimos ameaçados ou atacados, desesperados, impotentes, injustiçados ou mesmo quando estamos tristes e perdemos algo importante.
Só que a Ansiedade pode falar baixinho e a Raiva tem o poder de ocupar tanto espaço que nem sequer percebemos se estamos a sentir mais alguma emoção, nem mesmo quando a ansiedade aumenta o volume. A raiva dá-nos poder, faz-nos sentir em controlo e por isso poderá ser tão difícil de reconhecer o seu efeito ou perceber se a raiva estará a não deixar falar outra parte importante de nós. A Raiva torna-se aquela amiga que fala muito alto aos jantares e monopoliza as conversas!
Como a raiva nos pode dar a sensação de poder, por vezes, damos-lhe corpo e mostramos a raiva em comportamentos: “amuos”, discussões, confrontos verbais, agressão aos outros ou ao próprio. Precisamos de criar algum espaço que nos ajude a ter coragem de encarar as coisas que nos assustam no mundo, ou em nós mesmos e a encontrar uma maneira melhor de lidar com elas. Quando a raiva é reconhecida e bem gerida, pode proporcionar uma libertação saudável, ser motivadora de mudança ou de uma estratégia de auto-capacitação: diz-nos que precisamos agir, dá-nos força e energia e impulsiona para a mudança perante algo que nos incomoda.
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