Esquece a ética do sexo com robôs – o que te parece o sexo com realidade virtual?
A série Westworld tem inspirado uma série de teorias sobre a moral de se ter relações sexuais com sexbots, mas a realidade virtual para o sexo já está quase aí.
Graças à popularidade da série “Westworld”, parece que toda a gente quer falar sobre a ética dos robôs sexuais. A série, que cria um parque de diversões futurista cheio de anfitriões humanoides programados para satisfazer os visitantes, cada desejo, incluindo os sexuais, espalhou várias teorias e opiniões sobre a ética das relações sexuais homem-máquina. Esta é sem dúvida uma área de discussão interessante, mas um pouco prematura. Os robôs sexuais realísticos ainda estão muito longe, mas a realidade virtual (RV) sexual já chegou.
É a ética sexual da realidade virtual que é relevante aqui e agora.
Os headsets de realidade virtual ainda agora começaram a chegar ao mercado, mas já começámos a ouvir falar do seu potencial para o abuso sexual virtual. Jordan Belamire, partilhou uma história viral na qual foi molestada durante um jogo de realidade virtual com vários jogadores, na qual dizia que “parecia real, uma violação”. Esta não foi a primeira vez que uma mulher foi sexualmente molestada em realidade virtual, claro está. Este verão, a empresa de jogos japonesa Tecmo lançou o jogo “Dead or Alive Xtreme 3”, numa demo de realidade virtual que permitia aos jogadores tocar em mulheres de biquíni. A revista Enggadget caracterizou o jogo como “abuso sexual – o jogo”.
Mas as questões éticas que surgiram à volta do sexo e da RV vão mais além do abuso virtual. Estas questões incluem preocupações acerca do tipo de conteúdo sexual que será criado – nomeadamente a pornografia, ou seja, pode ser permitido ter relações sexuais virtuais com avatars ou com crianças criadas virtualmente. Já há questões sobre o que constitui infidelidade neste novo mundo ultra-imersivo, principalmente quando diz respeito a experiências sozinhas ou com múltiplos jogadores. E, de certa forma, existe a possibilidade real de que o sexo em RV seja tão avançado que alguns o prefiram ao sexo do mundo real.
Kathleen Richardson, uma investigadora sénior em Ética e Robótica da De Montfort University Leicester, está focada nas questões que envolvem robôs sexuais – é a diretora da Campanha Contra Robôs Sexuais, o que nos dá visibilidade sobre a sua posição neste assunto – mas também está preocupada com a proximidade real do sexo em realidade virtual. Ela acredita que coisas tais como a realidade virtual e robôs sexuais nos encorajam a ver os outros seres humanos como propriedade e diminui a nossa empatia.
“É este extremo e pouco empático mundo, onde se consegue entrar se se tiver o dinheiro e as competências necessárias, que permite que se preencham as necessidades e vontades em novas formas por agentes virtuais”, refere Kathleen Richardson. “Neste mundo, o que significa ser humano, empático e relacional está sob ameaça.” Isto não tem apenas implicações reais, “isto é o mundo real”, defende, o que significa que o que fazemos no mundo virtual reflete a nossa realidade – incluindo a nossa forma de pensar sobre as outras pessoas. “Isto só existe no mundo virtual porque existiu no mundo real”, explica.
A opinião de Richardson é muitas vezes escrita com algum grau de diversão pela parte dos jornalistas – por um lado porque robôs sexuais realistas parecem estar muito longe e, por outro lado, por causa da sua posição tão extremista. No entanto, quando se toca no ponto do consentimento sexual, há ainda mais preocupação por parte dos especialistas. Existem duas formas possíveis do abuso sexual na realidade virtual acontecer: atividade não consensual entre jogadores, num jogo de multi-jogadores, como aconteceu a Belamire; e a tentativa de abuso sexual por parte de um avatar programado ou com inteligência artificial. Isto pode tonar-se ainda mais semelhante aos abusos do mundo real, se considerarmos a introdução de fatos interativos e teledildonics que possam causar sensações físicas – o que significa que não te vês apenas a ser molestado, como também o sentes.
“Atualmente, a opinião global é que a violação virtual não é violação, mas é uma forma de abuso sexual”, defende Philip Brey (professor de Filosofia da Universidade de Twente na Holanda).
O problema da tentativa de abuso sexual numa personagem gerada por um computador é pouco claro. É aqui que batemos com as mesmas criticas que existiam sempre que se falava de algo tecnologicamente novo, desde a pornografia até aos videojogos. De facto, muitos dos cenários antecipados pelas comissões de ética tecnológica, assim como pelos programadores de RV, não são assim tão fundamentalmente diferentes das observadas no passado com outros avanços tecnológicos – quer seja o cybersexo em salas de chat, a proliferação da pornografia na internet, ou os deslizes amorosos. Exceto, apenas, o facto da realidade virtual criar toda uma forma de interação, ao mesmo tempo que traz novos níveis de imersão e que tornam ainda mais fina a linha que separa a realidade da fantasia.
Tal como Brey escreveu, as questões éticas são mais pronunciadas na realidade virtual porque esta tem um “potencial maior de alcançar um maior nível de realismo”.
No passado, houveram diversas discussões por causa de alguns jogos em particular, um dos exemplos é um jogo que dava recompensas aos jogadores que matassem as trabalhadoras sexuais. Brey defende que estes jogos “são imorais, dificultam o desenvolvimento moral e causam comportamentos imorais e antissociais no mundo real”. Investigação feita em alguns videojogos violentos, incluindo GTA, e alguma evidência mostra um aumento da agressão, mas não se sabe se esta leva a um comportamento criminoso no mundo real. Embora um estudo mostre a ligação entre a exposição a jogos violentos e a aceitação de maus tratos e a tolerância de abuso sexual.
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