A série Squid Game tem andado na boca do mundo, que é como diz, na boca dos adultos, mas também na boca das crianças e adolescentes. De facto, a série televisiva sul-coreana é, atualmente, um verdadeiro fenómeno, sendo a série mais visionada na plataforma Netflix. Embora não seja o primeiro fenómeno com conteúdos inapropriados para crianças, tem suscitado, legitimamente, a preocupação de educadores.
A premissa da série antevê desde logo um foco acentuado em conteúdos violentos: num contexto literalmente mortal, centenas de jogadores do Squid Game são confrontados com jogos infantis, tais como o macaquinho do chinês, em que perder equivale a morrer, com recurso a imagens de natureza explícita.
A série está facilmente acessível na plataforma Netflix e as redes sociais têm contribuído para a sua proliferação. Perante o fácil acesso, também crianças e jovens têm estado atentos ao fenómeno.
Porque é que é uma preocupação?
- Diversas meta-análises (estudos que compilam diversos resultados de diferentes investigações) convergem na evidência de que a exposição a conteúdos violentos nos media aumenta a probabilidade de comportamentos agressivos em crianças e adolescentes.
- A exposição a conteúdos violentos contribui para a dessensibilização face a agressividade, atitudes agressivas e comportamentos antissociais.
- As crianças não estão equipadas para visionarem conteúdos com violência, ainda que acompanhados por supervisão parental, uma vez que não há maturidade, de um ponto de vista de desenvolvimento cerebral, para a visualização de conteúdos visuais explícitos e violentos, e é possível que a exposição aos mesmos fomente a exponenciação de medos evitáveis e/ou que amplifique medos pré-existentes.
- As crianças não dispõem de contexto, enquadramento ou referências para temas adultosabordados na série. Enquanto conteúdos infanto-juvenis traduzem conteúdos complexos num formato acessível a crianças, séries como Squid Game ou conteúdos semelhantes, direcionadas a adultos, não contêm essa contextualização.
Que papel compete aos pais?
Aos pais compete a responsabilidade de terem em atenção ao que os seus filhos veem nos media, que considerem a natureza mais ou menos explícita, a extensão e contexto da violência figuradas e os riscos que lhe estão associados, a capacidade de distinção da criança entre realidade e fantasia (por norma mais estabelecida entre os 5/6 anos), e que acompanhem as mensagens que a criança retira dos conteúdos assistidos, sejam eles quais forem – ou seja, não só o que a criança vê, mas sobretudo que entendimento que esta faz do que vê.
Acima de tudo, os pais são responsáveis por conhecerem e falarem com os seus filhos, acompanharem o seu desenvolvimento e assegurarem amplitude de diálogo, sobretudo no caso de adolescentes em que a proibição não é a via mais apropriada ou eficaz.
Daniela Muro Silva
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