Falar em gerir emoções tornou-se moda, mas ninguém fala em gerir expectativas… e talvez devêssemos começar por aí, para não ter que gerir tantas emoções ou emoções por vezes tão invasivas e intensas.
A gestão das expectativas está indissociavelmente ligada ao que designamos como felicidade e que tem um significado diferente para cada indivíduo. Ser feliz é o que queremos para nós próprios, seja lá o que for que isso signifique, que queremos para os nossos filhos, sem especificar que o que ser feliz para nós pode ter um significado diferente para eles, e a felicidade é encarada assim como um nirvana que ninguém sabe bem o que é nem para si, nem para o outro; e, pior ainda, é um estado que se altera ao longo da vida. Mutante!
A felicidade não é certamente a ausência de problemas, até porque isso seria a negação da vida; nem tão pouco só usufruir o bem à face da terra, porque isso não existe! Felicidade não é um estado idílico e perene, mas sim encarar os problemas e os desafios e ter a capacidade de lidar com eles; sendo grato pelo que temos e aprendendo a usufruir das coisas simples da vida: o cheiro a terra molhada nas primeira chuvas, uma flor que nasce entre as pedras da calçada, o chilrear dum pássaro no meio da cidade, um sorriso e um bom dia quando entra no elevador, o cheiro a café quando passa na rua…. e as grandes coisas também!
E aqui começamos a falar em expectativas!
A gestão das expectativas
Cada manhã ao acordar e se começar por se sentir grato por ter mais de 40 anos e não ter nenhuma dorzinha irritante e inquietante, por ir trabalhar, por ter uma família que o ama e a quem ama; deve começar também a gerir logo as suas expectativas para o dia, gozando das pequenas/grandes coisas e sentindo-se grato também por isso, por poder apreciar e dispor de coisas simples e gostosas.
Concorda?!
Então vamos lá dar mais um passo na direcção certa: e está grato, ao acordar, por tudo aquilo que tem como garantido na sua vida: saúde, família, trabalho…. e já pensou que tudo isso se pode alterar de um momento para o outro?
Vou contar-lhe uma pequena história que aconteceu comigo esta semana.
Ao fim da tarde, e para não ser intrusiva e interromper um dia de trabalho, telefonei a uma amiga para partilhar uma notícia pessoal, quando ela me diz: não, não estou propriamente bem, porque sai de casa bem esta manhã, fui trablhar, mas comecei a sentir-me febril durante uma reunião com um cliente importante e já não consegui vir a conduzir para casa… Estou no hospital, diagnosticaram uma pneumonia, e vou ficar internada….
Já percebeu, não percebeu?! Nada é garantido na vida e tudo pode mudar instantaneamente. Portanto, há que estar grato pelo que se tem, na expectativa de que assim continue, mas nada tomando por garantido e imutável, nem mesmo a saúde.
E agora está na altura de reflectirmos sobre as nossas expectativas e como as gerimos. Se tivermos em mente que as devemos rever em baixa, contrariando todos os chavões e frases grandiosas e inspiradoras das redes sociais, na certeza de que queremos sentir-nos bem na nossa pele, temos que começar por gozar as pequenas coisas e simples que o quotidiano nos oferece e aprendendo a sentir-nos bem com o facto de sermos capazes de ajudar alguém com algo prático, se nos for solicitado; dando um conselho, a pedido ou partilhando uma experiência de vida; dando um abraço (e não estou a fantasiar, um abraço produz reacções a nível físico que lhe proporcionam bem estar, tal como o exercício físico), escutando o outro; e, muito importante, pondo os acontecimentos sob a lente correcta: nem aumentando, nem minimizando! Subestimar-se ou sobrevalorizar-se arruínam as expectativas de qualquer pessoa.
Aceite-se como é, sem se subavaliar ou sobrevalorizar, alimentando a sua auto-estima e mimado-se pelo que de bom fez ao longo do dia e que o fizeram sentir-se bem e mesmo mimar-se! Mas para isso não se pode comparar com ninguém, a não ser consigo e com o seu potencial, não sendo exigente demais e dando-se tempo para corrigir o que acha que tem que melhorar. Foque-se em si mesmo e onde encontra a sua motivação e certamente vai ver que ela está intrinsecamente ligada às suas expectativas.
Ninguém é perfeito, nem o Snoopy :), e você também não! Portanto, aceite que há alturas em que lhe falta algo, mas se assim não fosse o que é que teria para lutar e alcançar?
Seja sincero consigo próprio e esqueça o que os outros pensam de si. Sinta-se confortável na sua pele e tenha a coragem de estabelecer as suas expectativas, não deixando que o passado lhe roube o presente. Nem toda a gente que passou na sua vida veio para ficar e só se controla a si mesmo, pelo que quando melhor aprender a viver consigo e a saber quais as expectativas que deve gerir, mais feliz se irá sentir!
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