Abrir caminho para as emoções
Imagine esta situação:
O seu melhor amigo critica-o/a por qualquer coisa que fez. Como reage?
- Ignora a sua zanga. Eventualmente vai passar e distrai-se com outras coisas.
- Fica zangado/a e a pensar naquilo vezes sem conta. O que lhe devia ter respondido (“como se atreve…”), enveredando por um longo caminho que vai desde o apontar culpas, ao seu amigo (“ele não me devia ter dito aquilo) ou a si próprio/a (“se calhar tem razão, eu sou mesmo má pessoa) à recriminação e julgamento (“ porque é que não lhe digo logo tudo na cara, se calhar sou mesmo cobarde…. “) num processo em espiral.
- Reflete sobre a situação, repara na emoção que surgiu, e conversa com o seu amigo sobre a perspetiva dele e a sua.
Agora imagine uma panela de pressão:
- A panela está ao lume. Não gosta de ouvir aquele apito e quer é sair dali, porque lhe causa desconforto, mas ignora a situação ou até tapa a saída da pressão. A panela continua a cozinhar e a produzir pressão internamente que se vai acumulando, acumulando… até que explode. Chamemos-lhe evitamento o ignorar a pressão que se vai acumulando na panela.
O que será mais provável acontecer? O mais certo é explodir. Na pior altura e da pior forma!
ou
- Pode olhar fixamente para a panela, ver como ela está a ferver, sabendo que a comida pode estar a queimar, fica a pensar no que deveria fazer ou não fazer para que impedir que expluda e olha, desvia o olhar e depois volta a olhar bem de perto para o vapor que sai. Resultado, acaba por não fazer mais nada, e pior ainda, queima-se a si e à comida, culpando-se pela situação. Chamemos a isto, ruminação. Remoer e dar voltas aos problemas sem sair para uma solução termina em exaustão.
ou
- Pode ainda colocar um temporizador para não estar sempre ocupado/a a olhar para a panela e conseguir fazer outras coisas ao mesmo tempo, observando a pressão que vai surgindo, aceitando que não o/a deixa confortável, mas que é algo inevitável, e perceber quando deve baixar o lume e apagá-lo no tempo que a receita determina. O resultado será bem diferente!
Com as emoções acontece a mesma coisa. Podemos nem pensar no assunto, ignorar o que estamos a sentir, até que existe demasiada pressão e acabamos por explodir ou implodir. Ou permanecer num remoinho deixando que se torne um furacão, alimentando-o cada vez mais.
O que muitas vezes parece acontecer é que de facto, temos muito medo das emoções. Temos medo de não conseguir controlar (a palavra que mais oiço e me arrepia profundamente) as emoções. Como se sentir a emoção fosse igual a descontrolo. E racionalizar igual a controlo… Então usamos estratégias como ignorar ou evitar. Ou ficamos lá a tentar resolver incessantemente para controlar a emoção, mas não a deixamos fazer o seu papel e cumprir a sua função que é expressar uma necessidade.
As emoções não são certas ou erradas, boas ou más, são-nos úteis em determinado momento da nossa vida. No entanto quando permanecem as mesmas e não se ajustam às diferentes exigências da vida, das relações, dos contextos, acabam por nos limitar na nossa resposta, e deixam de ser o que chamamos de adaptativas e se nos são ou não nos são úteis. Algumas vezes, é-nos útil ignorar aquele sentimento de zanga perante a crítica pois temos algo mais urgente que precisamos dar atenção naquele momento (agora cuidado se vive em estado de urgência permanente e NUNCA dá atenção ao que está a sentir). Outras vezes precisamos de “mastigar” um pouco para pensarmos efetivamente sobre o assunto. Mas será útil a todo o momento?
Aceitar que fica zangado/a, triste, frustrado/a, ou qualquer outra emoção, que é desconfortável, mas que irá dissipar-se em breve, não é evitar nem suprimir. É permitir que aconteça, saber que magoou, deixar espaço para sentir e deixar ir. É avaliar se a tal crítica que o/a magoou fará sentido, e poderá ser útil, é perceber que não lhe diz quem é e que apenas se refere a uma situação, é dar-lhe a liberdade para aceitar que é uma opinião que pertence à outra pessoa, e com que pode concordar ou não. E resolvê-la: pensar sobre a situação, falar com o seu amigo sobre isso, corrigir algo que deve ser corrigido, tendo em conta os seus objetivos e valores na vida. É uma gestão complexa, mas que dá frutos a longo prazo. Tal como gerir uma empresa ou uma família. A vida é feita de equilíbrio, e deixar que as emoções giram a sua vida, ao invés de gerir as emoções é deixar que o barco navegue o comandante que vai a bordo. É preciso reconhecer as emoções (e nem sempre é preciso categorizar em palavras), expressar, negociar, reavaliar, aceitar, resolver e deixar ir quando necessário de forma a encontrar uma solução útil para a sua vida e bem-estar.
Se não está a ser fácil gerir as suas emoções e as situações da sua vida, pode sempre pedir ajuda para abrir caminho para as suas emoções!
Bushman, B. (2002). Does venting anger feed or extinguish the flame? Catharsis, rumination, distraction, anger and aggressive responding. Personality and Social Psychology Bulletin, 28 (6), 724–731.
David, S. (2016). Emotional Agility: Get Unstuck, Embrace Change, and Thrive in Work and Life. Pinguim Books, UK.
Forgas, J. (2013). Don’t worry, be sad! On the cognitive, motivational, and interpersonal benefits of negative mood. Current Directions in Psychological Science, 22(3), 225–232
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Olá,gostei muito me ajudou a esclarecer minhas resistências diante dos fatos que me imcomodam!Possuo idéias fixas acerca de acontecimentos e através desta leitura me fez clarear alguns po tos e porquês,que ainda não compreendia bem. Preciso de yma resposta.Porque estou insatisfeita 24h por dia?Porque quero estar em outro lugar,nunca onde estou,o que significa tudo isto?Obrigada!
Muito interessante e pertinente no momento atual em que a maioria das pessoas parece um “barril de pólvora” pronto a explodir.
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