Amores na infância

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OP-amores na infanciaDesde o nascimento inicia-se a caminhada do ser humano pelos trilhos do amor. O bebé “namorisca” e seduz os cuidadores, em busca de conforto e segurança. Mesmo antes da sedução ser feita de forma consciente, as raizes do amor, o “toque” e a “química” estão presentes na formação dos primeiros laços afectivos, com os cuidadores principais.

Uma criança que diz estar apaixonada, mergulha num mar de emoções e sensações, complexas, que até aí não tinha sentido. Simplificando, a criança encontrou outra criança com quem se sente bem a partilhar o seu tempo, o seu espaço e as suas brincadeiras. Se contemplarmos o Amor como algo complexo que concilia atracção sexual, prazer mútuo, compatibilidade social, conhecimento emocional, amizade e romantismo, que despoleta o sentido de cuidado, compromisso e plenitude… Estamos a falar de amor sob a forma de amizade.

Não existe uma idade rigorosa para se falar mesmo de amor/paixão. A maturidade será um indicador mais adequado. À medida que a criança cresce e se desenvolve fisica, social e emocionalmente, mergulha em novas emoções e sensações progressivamente mais complexas e, eventualmente mais intensas, que desconhecia até então.

As crianças em idade pré-escolar partilham muitas brincadeiras com muitas crianças. Se a criança mostra particular prazer em brincar com uma criança do sexo oposto, o adulto não deverá começar a dizer que as crianças são namorados. Nesta idade as crianças começam de facto a tomar consciência da sua sexualidade, mostrando curiosidade. No entanto, as suas relações com os pares devem ser fomentadas no sentido da amizade e da partilha e não tanto da relação amorosa dos namorados. Mais do que “impingir” namorados desde tenra idade, pais e cuidadores podem partilhar com as crianças a alegria de se estar apaixonado.

Na idade escolar, a partir dos 6 anos surgem as primeiras “paixões assolapadas” por algum colega ou mesmo professor. O assunto namoro pode começar a surgir, podendo a criança depois não voltar a mostrar interesse no assunto durante meses. Desde que não surjam comportamentos desadequados (como a incapacidade em falar de outras pessoas/outros assuntos), os pais não necessitam valorizar demasiado estes “amores precoces”.

Com a chegada da adolescência, as questões da paixão e do amor assumem outras proporções, gerando mesmo algumas ansiedades com a perspectiva de saídas a dois. E

é também nesta fase que surgem as maiores ansiedades por parte dos pais, com os receios dos abusos emocionais e da sexualidade a pairar. Por tudo isto, no início da adolescência os pais, mais do que resisitir e proibir, devem encorajar o jovem a participar em programas em grupo, como idas ao cinema ou almoços com grupos de amigos. Para jovens mais velhos, as relações amorosas assumem-se como mais sérias e intensas. Por esse motivo, os pais podem sempre incentivar a que o adolescente encontre um equilíbrio entre a relação com o namorado e a sua vida com o grupo de amigos e família. Os pais devem procurar conhecer a pessoa com que o filho tem uma relação, bem como frequentemente mostrar o seu interesse pela relação, procurando não ser demasiado intrusivos e respeitando alguma privacidade sobre o assunto.

Independentemente da idade, é importante sempre respeitar e levar a sério os sentimentos que a criança diz ter. Incentivar, desprezar ou proibir em nada contribuem para o desenvolvimento emocional da criança. Desvalorizar os sentimentos da criança, dizendo por exemplo “ainda és muito novo” fará com que a criança/jovem se sinta rídiculo e possa começar a recear exprimir os seus pensamentos e sentimentos. Mais importante que rotular se o que a criança/jovem sente é uma paixão verdadeira ou não, ou julgar se ela tem idade para saber o que é estar apaixonado, os pais podem desde cedo modelar e conversar sobre formas adequadas e respeitadoras de expressar apreço pelos outros. Pode mostrar interesse genuíno por aquilo que a criança ou jovem descreve, fazendo algumas questões. “O que mais gostas nesta pessoa? O que é que a vossa relação te faz sentir?…”

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Inês Afonso Marques
Inês Afonso MarquesPsicóloga Clínica

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