Que atire a primeira pedra quem nunca cobiçou férias alheias. Ou, que se questionou por que motivo é o único que ainda não viajou este ano. O mínimo seria ter já garantidas as passagens para a Costa Amalfi, quiçá rumo às Maldivas. Quando se apercebe, passaram minutos, por vezes horas, a saltitar de rede social em rede social, de perfil em perfil, meramente a acompanhar as férias dos outros. No final, sobra a insatisfação, os sentimentos de vazio e frustração e uma pausa com um aftertaste amargo.
O tema da comparação tornou-se indissociável do mundo das redes sociais. O zeitgeist (ou espírito da época) demanda a partilha de todo e qualquer momento suficientemente estético, popularizando a poética expressão: “Se não está online, não aconteceu”. Do outro lado das paisagens meticulosamente enquadradas, dos pratos de provocar água na boca ou dos rostos sorridentes, está alguém tão humano como o visualizador, com dias fantásticos e, outros, terríveis, com conquistas e derrotas, com sonhos e com receios.
Sem qualquer desprimor para quem encontra prazer na partilha, este texto destina-se à parte de si que observa e, por vezes, experiencia emoções menos agradáveis tais como a tristeza, a frustração ou, mesmo, a cobiça.
Em primeiro lugar, importa relembrar que os conteúdos que observamos online reproduzem, geralmente, experiências altamente tratadas, filtradas e, que refletem uma apurada seleção do que se considera mais apelativo. Não que as férias dos outros não possam ser verdadeiramente fantásticas mas, os melhores momentos são, apenas, isso mesmo, os melhores momentos. E até este conceito é subjetivo – afinal, o que aquele amigo de faculdade que não vê há anos valoriza nas férias não tem de ser o que o leitor deseja para as suas. Tanto se fala do fenómeno FOMO (fear of missing out, ou seja, o medo de estar a perder algo) e pouco se questiona se, o que estamos “a perder”, faz realmente sentido para nós ou, se não se trata, mesmo, de algo que tenhamos já na nossa vida, apenas com características diferentes.
Em segundo lugar, o “esteticamente apelativo” só se traduz em felicidade quando é intencionalmente saboreado. O descanso, a tranquilidade, a aventura, o sol na pele num dia de praia, só atingem a sua plenitude quando escolhemos viver esses momentos de modo presente e por inteiro. Deixo o desafio de, nas próximas férias, “fotografar” um destes momentos na sua memória – parar e direcionar a sua atenção para as sensações, tentando absorver o máximo de informação que os seus sentidos captarem no momento. É esta conexão consigo que lhe permitirá escapar à “armadilha da comparação”.
Assim, na hora de fazer a mala, leve estas sugestões consigo:
– Abrace a autenticidade – Ao invés de procurar a perfeição, acolha as idiossincrasias das suas experiências. Reconheça que as imperfeições, os desafios inesperados e os momentos não planeados resultam, muitas vezes, nas experiências mais memoráveis e significativas.
– Limite o consumo de redes sociais – Introduza intervalos intencionais das redes sociais. Viva plenamente o momento presente e crie memórias sem a pressão de documentar e partilhar todos os detalhes.
– Reenquadre a sua perspetiva – Em vez de se focar no que os outros estão a fazer, direcione a sua atenção para o que lhe traz alegria e satisfação. Cultive a gratidão pelos aspetos únicos da sua experiência e celebre os momentos que realmente importam para si.
– Procure conexões reais – Faça das férias uma oportunidade para promover conexões genuínas e não virtuais, priorizando os contextos presenciais.
– Pratique a autocompaixão – Seja gentil consigo e reconheça que a comparação é uma tendência comum. Lembre-se de que as pessoas tendem a mostrar os seus momentos mais atrativos e que a realidade por detrás do ecrã é, inevitavelmente, imperfeita.
Quer esteja de férias, quer esteja a atravessar um pico de trabalho, traga para os seus dias a intenção de construir uma realidade à sua medida, em harmonia com as suas necessidades e desejos, e saboreie todos os segundos. Há um rolo de fotografias dentro de cada um de nós, que mais ninguém vê, ou sente, do mesmo modo; no final do dia é isso que torna esta viagem tão especial.
Faz o que eu digo, não faças o que eu faço
“Faz o que eu digo, não faças o que eu faço” [...]
Qual foi o interesse que este artigo teve para si?
Ainda não existem avaliações. Seja o(a) primeiro(a) a escrever uma.