Uma das capacidades mais importantes para qualquer pessoa poder comunicar de forma mais eficaz é a assertividade. Para os psicólogos, facilita o estabelecimento de limites, transmitir a nossa perspetiva de forma clara e sucinta, para que o cliente compreenda. Para os clientes, pode ser uma ferramenta essencial para modificar (e, preferencialmente, melhorar) o seu estado de humor, as suas relações interpessoais e a sua condição geral.
A assertividade pode ser definida como um tipo de comunicação em que a pessoa expressa, de forma direta e honesta, as suas vontades, necessidades e/ou opiniões em situações interpessoais, respeitando a dignidade e os direitos dos outros (Delamater & McNamara, 1986).
A verdade é que a assertividade tem um grande impacto na forma como nos vemos e sentimos. Quando não expressamos abertamente determinados aspetos – quer por não sabermos como o fazer, ou por não sentirmos abertura dos outros para os receber – isto tem um impacto no nosso humor, deixando-nos mais deprimidos, ansiosos, ou até mesmo zangados. Por isso, desenvolvermos o nosso estilo de comunicação, garantindo que manifestamos as nossas vontades, ajuda a melhorar estes aspetos.
O treino de assertividade é baseado na premissa de que todos temos o direito de expressar os nossos pensamentos, sentimentos e necessidades aos outros, desde que o façamos de forma respeituosa. Conseguimos expressar as nossas opiniões de forma positiva e com confiança. Assim, o treino de assertividade já mostrou ter impactos positivos significativos na confiança, auto-imagem, sensação de valor e locus de controlo, uma vez que nos sentimos mais em controlo sobre o que precisamos e do que pedimos.
Mas a comunicação assertiva é uma dimensão complexa, que não depende apenas de nós ou do outro que nos ouve, depende também da própria situação, contexto e tempo em que afirmamos. Aquilo que nós podemos considerar um comportamento assertivo apropriado, outra pessoa pode considerar demasiado agressivo ou passivo. A própria natureza da situação determina a adequação do comportamento e do impacto social que terá.
Antes de mais, é necessário diferenciar os conceitos:
- Agressividade é um estilo de comunicação em que forçamos as nossas necessidades e opiniões nos outros, sem termos em conta as suas próprias, de forma inflexível. Há como que uma tentativa de exercer poder no outro, dar ordens, controlar de forma egoísta, rude e/ou hostil. É um jogo, e a pessoa veio para ganhar (ou para fazer os outros perder). Tendencialmente, é caracterizado por falar alto ou gritar, ter uma gesticulação muito expressiva de domínio, interromper os outros sistematicamente, etc.
- Passividade é, por outro lado, um estilo de comunicação em que o foco fica totalmente nas necessidades e desejos da outra pessoa, sem considerar as nossas. Há uma incapacidade de assumir o controlo, a sua opinião não consegue ser valorizada. É uma tentativa de evitar o conflito/confronto a todo o custo – mesmo que o custo seja só para nós. É caracterizado, por falar mais baixo/sussurar, evitar o contacto visual, postura corporal fechada em si.
- Podemos ainda falar de um outro estilo de comunicação – passivo-agressivo. Aqui não se é direto, vai-se camufulando o que se sente com as típicas “dicas” ou “Indiretas” que vão para quem as quiser apanhar. Há uma tendência de usar o sarcasmo, a ironia, o “tratamento do silêncio”, de forma a esconder as nossas verdadeiras opiniões.
Portanto, a assertividade acaba por ser o ponto rebuçado entre a agressividade e a passividade, onde quer as nossas necessidades e direitos, como as dos outros, são expressadas e respeitadas e onde a nossa própria forma de falar deve ser confiante, direta e clara.
A assertividade permite-nos atingir determinados objetivos, por isso, é necessário eles estarem claros para nós sobre o porquê de precisarmos de ser assertivos. Pode ser para tentarmos fazer com que alguém faça algo que queiramos; dizer Não a coisas que não queremos fazer ou não nos parecem razoáveis; garantir que os nossos direitos/necessidades são respeitados; resolver conflitos interpessoais; entre outros.
Os terapeutas têm um papel fundamental no desenvolvimento/aprimoramento da assertividade, pois pode ser um aspeto que modifique a condição geral do cliente. Tanto na Terapia Cognitivo-Comportamental (CBT), como na Terapia Comportamental Dialética (DBT), é comum a realização de estratégias de treino de assertividade. É importante descobrir que situações interpessoais são problemas para os clientes e que comportamentos precisam de mais atenção. Para além disso, a identificação de crenças e atitudes que o cliente tem é essencial para compreender de que forma influenciam/direcionam o seu comportamento a ficar mais passivo ou agressivo. Acontece, por exemplo, pessoas serem de extremos – a pessoa é muito passiva, contém em demasia as suas necessidades, até que explode e, nesse momento, passa para um estilo extremamente agressivo, nunca conseguindo, de uma forma ou de outra, fazer passar a sua mensagem.
Uma técnica específica que pode ser orientadora do desenvolvimento da assertividade, pertence a uma abordagem terapêutica chamada Terapia Comportamentl Dialética (Linehan, 2014) e tem o nome (acrónimo) de DEAR MAN:
- D) Descrever a situação em que nos encontramos da forma mais neutra e objetiva possível, focando nos factos, sem juízos de valor ou julgamentos inerentes. Isto permite que o outro saiba do que estamos a falar, sem provocar defensividade ou reação emocional
- E) Expressar como nos sentimos sobre a situação. Não podemos assumir que o outro sabe o que estamos a sentir, ainda que pareça óbvio, e por isso temos que dizer de forma direta. Uma boa forma de falarmos da nossa experiência/perspetiva, sem que os outros reajam negativamente, é utilizar frases/mensagens de “eu” – “quando __x__ acontece, eu sinto-me __x__”. Repare que não dizemos que a pessoa é x ou y, partimos sempre da nossa perspetiva daquilo que sentimos.
- A) Afirmar assertivamente o que precisamos ou queremos da outra pessoa. Mais uma vez, não podemos esperar que a outra parte saiba, temos que dizer o que queremos de forma direta e sermos específicos no que queremos que seja feito/mudado. Novamente, podemos usar como facilitador as mensagens do eu (“tendo em conta __x__, eu quero/gostava que faças __y__”). Isto é particularmente importante quando precisamos de dizer que “Não” – não podemos andar às voltas, temos de ser claros que a resposta é não, mas de forma respeituosa, podendo ou não haver uma justificação para a nossa resposta.
- R) Reforçar. Dar a conhcer ao outro sobre o que pode ganhar se cooperar. É importante a pessoa saber que pode ganhar algo com a situação também.
• Exemplo- D – Era suposto encontrarmo-nos ás 9h mas chegaste 1h mais tarde.
- E – Quando não me avisas que vais chegar atrasado, eu sinto-me triste e eu fico preocupada.
- A – Da próxima vez, eu gostaria que me avisasses com uma mensagem ou telefonema que vais chegar tarde.
- R – Assim, eu não estarei com tão mau humor quando chegas
Por vezes, esta estratégia é suficiente para haver uma mudança do outro lado que vá de acordo com a nossa necessidade/desejo. No entanto, noutras alturas poderá não ser assim tão fácil, dando origem a um diálogo ou discussão. Por isso, será necessário recorrer a um esquema complementar
- M) Ser Mindful. Mantermo-nos focados nos nossos objetivos e não nos permitirmos distrair deles ou sair do tema que estamos a falar, antes de os termos alcançado. Aqui pode ser necessário recorrer ao “Disco Riscado”, de forma a repetir a nossa mensagem/opinião de forma repetida, num tom de voz constante, para que a pessoa acabe por aceitar.
- A) Apresentar-se confiante. Garantir que a forma como falamos mostra confiança no que dizermos – falar com um tom de voz confiante; manter contacto visual (não olhar para o chão ou evitar contacto visual); não falar baixo, nem gaguejar ou dizer afirmações como “não sei bem”, “eu acho”. Quando conseguimos antever a situação, podemos preparar um discurso e treiná-lo/prepará-lo, para conseguirmos passar a mensagem mais confiantes.
- N) Negociar. Mesmo quando queremos tirar proveito da situação ou fazer um pedido, as pessoas não têm necessariamente de aceitar. Sabemos que as pessoas estão mais predispostas a cooperar se conseguirem algo em troca ou participarem em arranjar uma solução, em vez de ser só dizer o que têm de fazer
- Podemos oferecer outras soluções, que vão mais de acordo com o que o outro pede – as opções devem ser sempre coisas que estejamos dispostos realmente a fazer e nada de coisas que não queiramos, só porque nos sentimos desconfortaveis e queremos terminar a conversa.
- Podemos pedir sugestões – o que é que propões? Há alguma coisa que gostasses de tentar? – permite à pessoa sentir-se integrada na resolução da questão.
Por fim, uma das coisas que não nos podemos esquecer é que não podemos controlar o comportamento das outras pessoas. Não temos responsabilidade sobre como as pessoas reagem à nossa assertividade – nós só podemos controlar o nosso comportamento. Por isso, em momento de conflito, temos que nos manter calmos se as coisas ficarem tensas com a reação do outro ao nosso comportamento.
Foquemo-nos no que está nas nossas mãos mudar – e passemos a exprimir as nossas vontades com mais confiança e controlo!
Referências Bibliográficas
Delamater, R. J., & Mcnamara, J. R. (1986). The Social Impact of Assertiveness. Behavior Modification, 10(2), 139–158. doi:10.1177/01454455860102001
Linehan, M. (2014). DBT Training Manual. New York, NY: The Guilford Press.
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excelente explicação do tema e sugestões muito práticas a um tema tão complexo.
muito bom!
gostei!!!
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