À medida que o mês de dezembro se aproxima e nos envolvemos com as festividades do Natal e a ansiada contagem decrescente para o Ano Novo, muitos de nós encontram alegria e conforto nos rituais festivos. No entanto, para aqueles que estão a passar por períodos de luto, solidão, tristeza ou vazio, as celebrações podem tornar-se desafios emocionais difíceis de enfrentar.
A interseção entre festas e perdas não é uma dualidade incomum. Numa época em que o primeiro mundo se reúne para celebrar, a dor do luto pode parecer ainda mais intensa, o vazio soar a mais profundo. A pergunta inevitável surge: é possível conciliar a alegria das festas com a complexidade das emoções associadas às mais diferentes perdas que parecem tornar-se ainda maiores nesta altura?
O Natal e a passagem de ano não precisam de ser momentos de evitamento ou supressão emocional. Pelo contrário, estas celebrações podem tornar-se oportunidades para honrar e lembrar aqueles que já não estão fisicamente presentes, podendo ser criados rituais e tradições que homenageiem a memória da pessoa querida. Alguns exemplos podem ser: decorar uma árvore de Natal com enfeites – como fotografias – que representem momentos especiais partilhados com quem não está presente; acender uma vela em memória de quem deixou um vazio; ou, até mesmo, escrever uma carta dirigida a essa pessoa, expressando o que se está a sentir. Dada a relevância que os rituais podem encerrar, todas estas podem ser formas poderosas de integrar o ente querido nas celebrações. Esses gestos podem proporcionar um sentido de continuidade e conexão, contribuindo para transformar o luto numa celebração da vida.
É crucial aprender a aceder, estar em contacto, reconhecer e aceitar o leque de emoções que podem surgir. Permita-se sentir tristeza, nostalgia, zanga e, até mesmo, alegria (sem culpa!). Os processos de luto não seguem um calendário linear e universal, sendo que cada pessoa vive e processa as emoções de maneira única.
Ao deparar-se com eventos sociais, pode ser benéfico estabelecer limites claros do que me sinto/estou preparado para enfrentar vs. o que ainda não quero/consigo/posso, bem como comunicar as suas necessidades aos amigos e familiares. Seja honesto consigo mesmo e responsivo aos seus próprios limites e esteja aberto ao apoio emocional de entes queridos. O autocuidado torna-se ainda mais essencial durante este período. A reserva de momentos para relaxamento e reflexão pessoal pode proporcionar algum alívio e serenidade.
A referência a processos de luto remete-nos, habitualmente, para perdas físicas, tais como as causadas pela morte ou pela distância física – com as novas vagas de emigração é cada vez mais frequente termos famílias separadas em alturas do ano outrora passadas em conjunto – situações de doença mais, ou menos, incapacitante, de abandono e de crise, como é a causada por um desemprego ou o término de um relacionamento amoroso. Todos estes se podem afigurar como um processo complexo de superação que envolve, não apenas a perda de uma conexão emocional, mas também a necessidade de redefinir a identidade e as perspetivas de futuro e projetos de vida.
Enquanto se encontra com as festividades características de dezembro, considere criar novas tradições ou envolver-se em atividades que possam trazer um novo sentido à sua vida. Encontrar formas de expressar emoções, seja através da arte, escrita ou conversas com amigos de confiança, pode ser terapêutico e auxiliar na transformação do vazio numa jornada de autodescoberta e crescimento pessoal.
Não negando o sofrimento que possa estar a vivenciar, as celebrações desta época do ano podem constituir uma oportunidade para reavaliar a sua vida e rever prioridades.
Em última análise, festas e lutos, perdas ou vazios, não são mutuamente exclusivos. É possível integrar as emoções complexas associadas à perda nas celebrações de dezembro, transformando estes momentos desafiantes em oportunidades de crescimento emocional e conexão mais profunda consigo mesmo e com os outros, fortalecendo laços com as pessoas importantes que estão perto e, também, com quem está distante por força das circunstâncias, mas ligado emocionalmente de forma significativa.
Ao honrar o passado, gerir as expectativas no presente e reinventar o futuro, é possível descobrir uma resiliência surpreendente, ainda que experienciando dor. Que as celebrações deste mês se tornem não apenas um “lembrete de perdas”, mas também uma celebração da força interior que nos capacita a encontrar luz mesmo nos caminhos mais escuros.
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