Dizer “não” é tão natural como dizer “sim”
Dizer não é considerado na nossa cultura sinal de estar a ser pouco educado e, em certos círculos, mesmo inconveniente.
E há não que é sim e, pior ainda, há alguns não que são nin!
Sabe do que é que eu estou a falar? Eu também! :)
Estou a falar do que cada um ouve e traduz de acordo com os seus filtros, as suas convicções, ou o momento da vida em que se encontra, fruto de uma audição selectiva, de quem só ouve o que quer ouvir.
No processo de aculturação é-nos ensinado o que é socialmente aceite e o que não é, de acordo com os valores da nossa família, dos nossos grupos de afiliação e pertença e, mais tarde, da cultura da empresa em que trabalhamos. Aprendemos o que dizer, não dizer e, mais importante e que dá imenso jeito, a omitir! Aprendemos a ser politicamente correctos J.
Se um sim é quase sempre bem aceite, o não indica geralmente má vontade, falta de disponibilidade, irreverência, e falta de consideração pelo outro. O não é algo a evitar!
Consequentemente, arranjamos maneiras inusitadas de o transformar num nin…. nem não, nem sim, e que deixa o outro na dúvida do que realmente queremos dizer, mas que lhe assegura que não se trata de uma rejeição.
E aqui coloca-se a questão: pergunto para ouvir a resposta, ou pergunto de modo a condicionar a resposta, de forma a que ela seja a que eu quero ouvir?
Se há audição selectiva, há perguntas insidiosas!
Sempre que perguntamos algo, pressupõe-se que escutemos a resposta atentamente e sem julgamento antecipado: a isto chama-se sinceridade e comunicação direta e aberta.
Sempre que perguntamos algo e em vez de escutarmos atentamente a resposta, pensamos na resposta que gostaríamos de ouvir, estamos a deixar a nossa linguagem corporal evidenciar isso sem nos apercebermos, provocando desconforto no interlocutor e condicionando-o, em certa medida, podendo levá-lo mesmo a dar uma resposta ambígua, incompleta, receosa ou mesmo agressiva… e nada pior do que isso para minar a comunicação e a relação.
E esta constatação leva-nos a pensar no que tanta falta nos faz no quotidiano: assertividade e o que é isso implica em termos de dizer sim e não, de omitir, mas claramente nunca apostar no nin.
Assertividade é, por definição, a capacidade de ser directo e sincero, sem ferir o outro, numa comunicação clara e inequívoca, em que expressamos a nossa vontade, sem dúvidas; dizendo sim pela afirmativa e não pela negativa, e reiterando que um talvez é um pedido de tempo para reflectir e decidir num futuro sim ou não. Mas isto tem implicações: ouvir o outro escutando-o até ao fim, percepcionando o que nos está a comunicar, sem pré-julgamento, sem começar logo a levantar uma série de barreiras defensivas e que nos fazem deixar de ouvir para escutar, mas somente ouvir para responder e mesmo para distorcer a comunicação, com uma outra resposta ainda mais dúbia….
Ser assertivo pressupõe não julgar por antecipação e não escutar com precaução e medo. Medo de não gostar do que vamos ouvir; medo de não ouvir o que queremos; medo de não conseguir condicionar a resposta do outro à nossa vontade e desejo.
E aqui coloca-se a questão: afinal o que é que eu devo ser? sincero ou assertivo?
Se a assertividade se aprende, a sinceridade é um modo de vida…
2018. E agora?
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